quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

2017: De olho no calendário !

Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo /Arquivo

Se tem uma coisa da qual o futebol brasileiro carece é de gente com atitude. Nesse sentido gostei muito de ter dado de cara com a entrevista concedida pelo técnico Paulo Autuori, pouco antes de o time comandado por ele, o Atlético Paranaense, estrear na Libertadores. Com categoria, diria até com elegância, Autuori foi duro ao criticar a CBF. E disse uma coisa que, embora soe óbvia, é algo pra se ter em mente sempre. A saber, o sucesso da seleção não é o sucesso do futebol brasileiro. 

Claro, o início do trabalho realizado pelo técnico Tite inevitavelmente faz pairar no ar a sensação de que o nosso futebol encontrou um rumo. O que se dá, acredito eu, por um detalhe muito interessante, que merece ser destacado: o lugar que a seleção continua ocupando no imaginário do torcedor. A seleção, de um jeito ou de outro, continua sendo um dos grandes signos da nossa relação com o jogo de bola. Logo, quando algo de bom se dá com ela recebemos, quase instintivamente, uma descarga de contentamento, pra não dizer de alívio.

Outro grande sinal que me veio com a declaração de Autuori foi a coerência dele. Em dezembro de 2015, quando os integrantes do movimento chamado Bom Senso foram até a porta da CBF para fazer uma manifestação e ler uma carta de protesto que pedia, entre outras coisas, a renúncia do presidente da entidade... lá estava Paulo Autuori. E se a memória não me trai foi o único treinador a dar as caras. Daquela época pra cá o Bom Senso perdeu força e os outros nomes de expressão que marcaram presença no ato não voltaram a falar com tamanha veemência sobre essa nossa realidade. 

E vale lembrar também que dois anos antes, em 2013, Autuori já tinha feito muita gente por aqui lhe olhar torto por ter dito que os treinadores brasileiros estavam defasados. Dessa vez  voltou a falar sobre o tema, não correu dele não, e até apontou o que nos levou a essa defasagem. E não deixou de nos lembrar, como tem feito também o Tite, da perversidade do nosso calendário. Por isso, se tem uma coisa à qual devemos ficar atentos a partir de agora é o que esse novo calendário irá fazer com o futebol brasileiro. As mudanças recentes farão competições importantes como o Brasileirão e a Libertadores serem disputadas em paralelo.

Em outras palavras, parecemos seguir na direção inversa àquela que gente que entende do riscado nos têm apontado. Chega a ser desolador constatar que depois de tantos escândalos o principal esforço feito pelos homens que comandam o futebol foi jogar mais uma dose de fermento em alguns dos seus principais torneios para que a realidade deixe de ser uma ameaça ao crescimento do faturamento. Diante disso tudo a temporada que agora começa terá a virtude de nos mostrar quais serão os efeitos colaterais das últimas cartadas dadas pelos cartolas. Temo que ao fim dela Autuori esteja parecendo ainda mais lúcido do que agora.  



* A entrevista  na íntegra pode ser lida aqui: 
http://bit.ly/2jYKxl8

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