quarta-feira, 4 de maio de 2016

As regras, sempre claras!

Desde que me conheço por gente as regras do futebol dão o que falar. E se a memória não me trai também faz  tempo que não ouço alguém dizer que o sucesso do futebol se deve muito ao fato de ser um esporte de poucas regras. E regras preservadas ao longo da história. Reconheço a virtude. E se escrevo sobre é por acreditar que as intervenções feitas nos últimos tempos tiveram algo de desastroso, em especial, por terem atentado contra essa virtude. 

 Vejam a recente orientação sobre os pênaltis causados por bola na mão. De repente ficou estabelecido que se a bola bate na mão é pênalti e ponto. Imaginaram que num passe de mágica acabariam com o foi-não-foi que costuma manchar reputações. Ora, se há um pecado em matéria de futebol é ignorar a complexidade do jogo, o que a orientação descaradamente fez. 

Mas o que pretendo mostrar é como a decisão teve um efeito perverso. Acredito que vocês, como eu, desde cedo aprenderam a interpretar o que era e o que não era pênalti. Levar em conta a intenção. Claro que não era fácil, nunca foi. Mas a orientação passou a duelar com essa lógica. Chegamos ao seguinte ponto. Em uma partida depois de um lance desses o narrador perguntou ao comentarista como ele interpretava o lance que tinha acabado de acontecer. E ele não teve dúvida. Afirmou que pela orientação dada aos árbitros deveria ter sido marcada a infração, mas que ele, comentarista, não daria. Era ou não era mais simples ter preservado o papel da interpretação que o futebol sempre exigiu?

Bom, foi-se o tempo em que as regras do futebol eram preservadas. Há exatamente um mês o International Board aprovou, e a CBF irá adotar, um pacote de mudanças considerado o mais abrangente dos 130 anos de existência do órgão. O livro de regras foi reorganizado e atualizado, segundo eles, para facilitar a leitura e o entendimento de árbitros e comunidade em geral. A partir de então qualquer toque no rosto - mesmo aqueles com jeito de carinho - redundaram em expulsão. 

E o principal! Aquele lance em direção ao gol, sabe? Aquele que todo mundo exige vermelho? Esse passará a merecer o vermelho só se a falta for intencional, ignorando a bola. A intenção é ótima, claro. Mas interessante aí é notar que dessa vez voltaram a acreditar na interpretação do lance. Ou alguém aí é capaz de crer que ela se fará necessária? Faltas cometidas além da linha de fundo, depois do limite do campo, também serão marcadas. E há outras mudanças. Mas o que me assombra é a certeza de que se fosse debater a eficácia delas com algum entendido a certa altura iria ouvir que estou interpretando a coisa de modo errado

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