quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A dinastia dos smartphones


De todos os textos e fragmentos de textos que tenho lido um tem insistido em ficar na minha cabeça. Falo de um que versava sobre a invasão dos smartphones na nossa vida. As teorias eram diversas, mas um detalhe me chamou a atenção: como essas máquinas ao nos emitir avisos sobre o que nos chega acabam por tabela decretando o que é, ou não é, urgente. Atropelando nossa vontade. Depois disso tirei do meu aparelho os avisos sonoros. Queria passar a procurar o celular e não que ele ficasse me dizendo em que momento deveria buscá-lo.
 
Restou então aquela infame luzinha que pisca toda vez que uma mensagem, e.mail, curtida, invade a máquina. Tentei resistir à luz, mas é claro que cada brilho emitido me desafiava a fazer pouco caso da urgência ditada pelo sinal. Pra me sentir um pouco mais são e livre dei cabo também do sinal luminoso. E posso dizer a vocês que muita coisa mudou. Não ! Foi quase o nirvana. A partir daquele momento passei eu a procurar o aparelho, mas só nos momentos mais indicados, sem deixar que a porra do smartphone se intrometesse em um devaneio, numa conversa com amigos, ou num momento em que estava focado em algum detalhe do trabalho. Em outras palavras, voltei a ter vontade própria. Pode não ter sido a glória, mas foi um tipo de libertação. 
 
A depender das máquinas e seu mundo sedutor tudo seria possível. Só hoje me ofereceram a possibilidade de aumentar o pinto, ganhar até cinco mil reais por dia sem sair de casa e, creiam, administrar dois milhões e quinhentos mil euros de um cidadão que está morrendo de câncer do outro lado do mundo e escolheu a mim para criar um lugar para atender crianças e idosos em dificuldade. Gostaria muito de mirá-lo no fundo dos olhos e confessar que não sou a pessoa mais indicada pra essa missão. E tenho certeza de que ele se convenceria quando eu dissesse que mal consigo administrar a porcaria do meu smartphone.
 

Não faço meditação, nunca fiz yoga, não costumo ir com frequência razoável a templos nem igrejas. Toda minha fé na purificação do corpo e da alma tenho depositado numa prática simples: tomar coragem e abandonar meu celular em casa toda vez que estiver desfrutando de um tempo que , ao menos em teoria, deveria ser só meu. Estou convencido de que assim me tornarei um ser humano melhor, mais dado a escutar as pessoas, a lhes oferecer mais insistentemente meu olhar. Por falar em olhar, sem nossos celulares, notem, automaticamente ficamos mais eretos e isso, nada me tira da cabeça, também pode ser um sinal de evolução. 

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