quinta-feira, 20 de março de 2014

Outros tempos



Dia desses numa conversa ouvi alguém dizer que ainda não percebemos o entusiasmo com a Copa porque ela não começou. A aposta de quem falava era que quando a bola rolar a gente vai entrar no clima. Mas a Copa parece tão perto, pensei comigo. A verdade é que ouvi o argumento sem contestar, ainda que ele tenha me provocado uma vontade imensa de retrucar. Disparar um: "Também pudera, se começar e continuarmos nesse clima, empolgante é que não vai ser, né?". 

Juro que não lembro como esse contágio se dava em outros tempos, em que momento exatamente nos entregávamos a ela. A impressão, no entanto, é a de que a essa hora uns trinta anos atrás, talvez menos, estaríamos tomados por alguma sensação mais viva. Claro, é preciso aí levar em conta o peso dos anos, não só no futebol, mas em nós. O passado era infinitamente de mais entrega e menos reflexão. Mas o papo mexeu comigo, tanto que vou batucando aqui e pensando que seria interessante sair por aí perguntando pra garotada se ela já anda, ou não anda, curtindo essa Copa de algum jeito. Me deu uma nostalgia. 

Será que eles se empolgam com um Neymar exatamente do mesmo jeito que em outros tempos eu e meus amigos nos empolgávamos com um Zico? Será que depois de assistir a um jogo da seleção ainda fazem dele motivo de uma longa conversa pra lá de animada? Será? Foram relatos feitos nesse clima que me tatuaram na memória detalhes como aquela levantadinha que o Éder deu na bola antes de disparar o chute pro gol no jogo contra a União Soviética em 82. Bom, não seria de estranhar se dissessem que tudo isso não tem mais nada a ver. Afinal, o Brasil agora é outro e a meninada também. 

Portanto, essa será  a Copa de um Brasil em que a várzea perdeu o vigor. Onde era uma vez o futebol jogado em ruas de terra, em campinhos desenhados a tinta óleo no asfalto áspero. Essa será a Copa do Brasil das ruas que se entupiram de carros. Do Brasil que ainda há pouco achamos que ia dar certo. A Copa do país onde a meninada anda curtindo mesmo é dar um rolêzinho. A Copa de um Brasil que não teve a capacidade de se vestir melhor para recebê-la e que estará longe de cumprir tudo o que prometeu em seu nome. Mas a Copa deve, sim, nos empolgar em breve. E, seja como for, deixemos a bola rolar que o mundo anda é pra frente.    

Nenhum comentário: