quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Dá pra ser feliz?

Ser feliz a todo instante não passa de quimera. Tudo o que nos resta é se contentar com momentos de felicidade. E como de minha parte nunca tive essa pretensão, está de bom tamanho que assim seja. Também não tiro de ninguém o direito de tentar essa felicidade constante que os estudiosos julgam impossível. Mas não tem sujeito nesse mundo mais rebelde contra tal constatação do que o torcedor.

Vejam o caso dos corintianos. Imersos em glórias - que muitos alvinegros esperaram durante toda uma vida e não viram -, desfrutaram nos últimos tempos de uma felicidade tão longa para os padrões do futebol nacional que para os adversários ela teve (e ainda tem) ar de infinita. Um período tão próspero nesse sentido que há muito tempo a torcida corintiana não encontrava motivos para demonstrar com certa contundência o seu lado impiedoso, traço que em matéria de força só perde mesmo para sua histórica e reconhecida fidelidade.

Tudo bem que o futebol permita esse teatro do impossível. Afinal, até o mais ponderado cidadão quando se trata do jogo de bola parece se dar o direito de alimentar a esperança de renovar a felicidade a cada nova rodada. O que não me parece muito justo é questionar um técnico como Tite. Se um treinador que conquistou o que ele conquistou não merece apoio depois de uma série de três derrotas, ninguém há de merecer. Escrevo aqui imaginando como terá se apresentado o Corinthians diante da Ponte Preta, mas acima de tudo recordando a figura do treinador corintiano.

Tite, perto ou não de encerrar seu ciclo no comando do time do Parque São Jorge, terá deixado como legado não só as conquistas mas uma maneira de lidar com os anseios e com o gigantismo da nação corintiana. Quando se alcança conquistas expressivas assim, às vezes, o que se crava em nossa memória é um detalhe do jogo final, seu homem mais habilidoso ou decisivo, mais do que o nome do técnico. Coisa que possivelmente não irá acontecer em se tratando das inéditas conquistas da Libertadores e do Mundial. Tite deixou uma marca.

Poderia falar aqui em outras injustiças, como questionar o futebol eficiente e discreto do meia Danilo. Pensando bem, mais difícil e improvável do que ser feliz pra sempre é pensar que o futebol brasileiro um dia deixará de ser escravo do resultado, que um dia entenderemos o papel e a importância dos seus personagens muito além do placar.


* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos


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