quinta-feira, 13 de junho de 2013

A tal posse de bola


O futebol se encheu de estatísticas. Fruto da nossa velha tendência a copiar o american way of life. E com esse sem fim de números vieram certos termos, o da assistência, por exemplo. Hoje não se dá mais passe, se dá assistência. Pois entre as tantas coisas que os números se dispõem a medir está a pra lá de cortejada posse de bola. Uma virtude que o Barcelona de Guardiola soube aprimorar como poucos.

Com tamanho domínio sobre esse quesito o time catalão minou a vaidade de muitos adversários. Em áureos momentos impôs a quase todos o papel de correr atrás da bola. Em alguns casos beirou a crueldade. No ano passado nas oitavas da Copa do Rei contra o Osasuna ficou com a pelota oitenta por cento do tempo.

Tudo isso acabou por transformar a posse de bola numa espécie de vedete dos tempos atuais. Mas ter a bola sem saber exatamente o que fazer com ela dificilmente levará à glória.  E a questão que eu creio ser interessante levantar é até que ponto a veneração por esse tipo de supremacia está mudando o futebol. Vendo jogos antigos, alguns deles ao menos, a gente fatalmente tem a impressão de que os times visivelmente estavam pouco preocupados em ficar com a bola, queriam em primeiro lugar levá-la ao destino, o gol. O que produzia jogos mais dinâmicos.

O que não mudou de lá pra cá é que o time mais técnico, mais talentoso, fatalmente demonstra uma capacidade muito maior de trocar passes e, consequentemente, ficar com a bola. E mais, essa preocupação em ficar com a bola, a meu ver, está um pouco na origem de uma das características mais irritantes do futebol atual, o toque para o lado, para não dizer o toque para trás.

Exemplos de jogos em que o time que teve menor posse de bola venceu o jogo não faltam. Para quem não lembra a recente eliminação do próprio Barcelona pelo Bayer de Munique na Copa dos Campeões da Europa se deu nesse contexto. Observar atentamente quem andamos cultuando ao longo da história é uma boa maneira de entender o rumo que o mundo tomou. Meu amigo Jaiminho, profundo conhecedor da várzea paulistana grita aqui ao lado que a posse de bola é virtude, sim, mas só se combinada com qualidade e ousadia. Pois é. Coisa pra quem pode. De outro modo é o mesmo que querer vestir black-tie pra ir à praia. Não dá liga. Pode ficar vistoso até, mais dizer que levará ao sucesso, aí não dá.  

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