sexta-feira, 6 de maio de 2011

A bola está com a Dilma

Em matéria de política as notícias não têm sido nada alvissareiras. Em caso de dúvida dê um passeio pelas páginas que tratam do assunto e tire as suas próprias conclusões. Tão desoladoras quanto elas têm sido os fatos envolvendo o futebol e a política. Na era Lula os nossos dirigentes nadaram de braçada e ganharam motivos de sobra para espantar os fantasmas outrora saídos de uma CPI que acabou esvaziada mas que serviu para expor os horrores escondidos no ventre do futebol nacional.

Entre as tantas ajudas dadas pelo ex-presidente aos cartolas está, inclusive, a assinatura de uma medida provisória autorizando o Corinthians a fazer parte da loteria batizada de Timemania mesmo depois do clube ter perdido o prazo de inscrição. Foi por isso que dias atrás o título de uma matéria que encontrei na internet me chamou a atenção.

O título dizia: "Estilo Dilma contrasta com "boleiragem" de Lula e já vira obstáculo para cartolas". O texto afirmava que os envolvidos com a Copa de 2014 eram os mais atingidos por essa mudança de estilo. Afirmava ainda que "o tom agora" era " mais de cobrança do que ajuda incondicional". É pouco eu sei. Mas talvez se trate da melhor notícia envolvendo futebol e política que eu li nos últimos tempos. Uma pena se tratar mais de uma versão do que, provavelmente, de um fato.

Eu estava no Palácio do Planalto em 2008 quando Lula recebeu os primeiros brasileiros campeões do mundo em um evento para celebrar os cinquenta anos do feito. Durante quase uma hora Lula costurou os principais momentos daquela conquista, com suas impressões pessoais e amarrou todas essas coisas com elogios individuais, sem deixar um deles sequer sem uma citação entusiasmada. Tudo com cara de improviso. Lance de mestre.

Na ocasião prometeu a todos uma aposentadoria que ainda não veio, e nem sei se deveria. O que eu sei é que promessa é promessa e não se deve fazer sem a certeza de poder cumprir. E isso nada tem a ver com religião, hein? Lula conquistou todos ali, estava claro no rosto de cada um, fossem eles jogadores ou não.

A oportunidade de acompanhar o ex-presidente de perto ao longo dos seus mandatos não tive, mas não creio cometer pecado se disser que naquele momento o seu discurso "boleiro" atingiu o auge. Em razão desse histórico de cumplicidade entre a nossa maior autoridade e os nossos dirigentes é que dar de cara com um título desses renovou em mim alguma esperança. Poder imaginar os nossos cartolas receosos de levar uma virada me alegra.

Dilma pode até não marcar o gol, mas o simples fato de deixar claro quem está com a bola já me faz levantar entusiasmado na arquibancada. E digo mais, não resta dúvida de que a trama que trouxe a Copa de 2014 para o Brasil é o resultado mais palpável dessa relação que se estabeleceu entre o poder executivo e os poderosos do mundo da bola. Eles têm muito em comum. Não deve ser por acaso que dos vinte e sete partidos em atividade no Brasil dez deles são presididos pelas mesmas pessoas há mais de uma década, alguns há mais de duas.

Só um louco para não levar em conta que na hora da festa todos os envolvidos farão questão de receber de volta as ajudas e os louros por ter jogado na defesa de tão custoso e problemático espetáculo. Dilma, ao tratar o assunto com o tom gerencial que ele exige, dá pistas de que poderá se revelar um tipo de jogadora que Lula não foi.

Melhor que isso só mesmo se fosse possível trocar as nossas eleições presidenciais de ano. Do contrário, teremos eternamente que lidar com essa realidade perversa que coloca no mesmo calendário a Copa e as eleições. Futebol e política quanto mais distantes melhor. Não para eles, claro, mas para nós.

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