sexta-feira, 5 de março de 2010

Joel, Dunga e Dadá

Sou um sujeito desconfiado, minha mulher vive me dizendo. Fazer o quê? Se desconfiar não é virtude também não é pecado. Presumo que seja até um efeito colateral dessa minha profissão. Agora mesmo, no momento em que escrevo estas linhas, Joel Santana tenta explicar em um programa de televisão porque não põe o Caio pra jogar de vez.

Caio é a jovem estrela do time que ele dirige, o Botafogo do Rio. Joel, do alto de sua original simplicidade devolve a pergunta. Educado e muito incisivo, sugere:

_ Você joga carta, não joga?
_ Você tem um coringa. Você começa o jogo com o Coringa? Não, né?

Perfeito... pro jogo de cartas. Futebol é outro papo. Eu poderia acreditar na teoria do rodado e vitorioso treinador, mas desconfio, ah, se desconfio. E desconfiava quando Luxemburgo dizia que o Neymar não estava pronto. Muitos já tentaram me convencer de que ele só amadureceu agora. Nada disso, pra mim um cara que joga a bola que ele joga, um ano atrás podia muito bem já ter aprontado das suas. A única diferença, de lá pra cá, é que agora o colocaram pra cima e, ao invés de questionar seu talento, se renderam a ele.

Desconfianças à parte Joel dá um show. Elucida o futebol como poucos e tempera tudo com uma dose generosa de humanidade. Pouco depois, vejo, em outro canal, o Dunga, comandante em chefe da nossa vitoriosa seleção, explicar seus métodos. Ele deixa transparecer a segurança militar de sempre. Durante uma das respostas afirma que a imprensa não gosta quando ele resgata a história da Copa de 2006. Como assim?

Pelo que me consta não somos nós os mais incomodados com o passado. No mais, o discurso de Dunga faz muito sentido. A exigência do comprometimento, da determinação, da raça, do ambiente. Mas pra mim não tem jeito. Um sujeito como eu não resiste. Começo a desconfiar que Dunga cuidou de tudo, mas é tanta coisa, que o futebol deixou de ser prioridade. Por isso, pouco importa se a seleção que vai à África teria mais brilho de outra forma.

Importa é montar um elenco de homens vitoriosos, cuja honra não seja questionada na derrota. Como se alguma derrota fosse capaz de vencer questionamentos. Imaginem. Começo a desconfiar que o preço dessa estratégia não foi bem avaliado, porque o preço pode ser o de voltar a ser atormentado por um velho fantasma: a acusação de vencer com um futebol sem requinte.

Um sujeito desconfiado é fogo, meus amigos. Bom, aproveito o momento - já que falamos na original simplicidade do Joel - pra lembrar de outra grande figura do nosso futebol, Dadá Maravilha, que fez aniversário ontem e que eu vi dirigir, no final da carreira, o Comercial de Registro, no Vale do Ribeira, diante de uma torcida impiedosa. Desconfio que uma das muitas frases atribuídas a ele vem a calhar. "Bola, flor e mulher, só com carinho". Salve Dadá

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