quinta-feira, 5 de março de 2009

O ocaso do Paulistão

O jogo de bola anda xôxo! E a caça às bruxas corre solta.

É preciso, urgentemente, achar um culpado pra toda essa monotonia que se abateu sobre os gramados paulistas. É preciso uma explicação. Algo que possa aclarar que tipo de vírus é esse faz o sujeito não acertar um passe de dois metros.

Quem irá admitir que o nosso futebol não é mais aquele? E insistir? Pode pegar mal, eu sei.
Que heresia, dirão! Falta-nos coragem, esse requisito fundamental... como já sugeria Guimarães Rosa.

Bem mais fácil do que isso é crucificar o Campeonato Paulista , essa entidade que atravessou o último século a brincar com o coração dos nossos pais, nossos avós, tantos outros.

Gente que um dia separou seu melhor terno e seu melhor chapéu e caminhou calmamente para o estádio onde seria disputado uma peleja do estadual. E foi assim, transbordando simplicidade. Comprando o ingresso na hora. Com direito a esquecer da vida nas arquibancadas antes da bola rolar.

Uma cena entre tantas. Cenas que se distanciaram do nosso cotidiano.

Hoje a curtição está a serviço do anseio de grandiosidade que tomou a torcida. E viva a UEFA, a Champions League, o Chelsea e seus milhões. E não são apenas os jogadores, a mídia também anda amarradona no glamour, na Libertadores, anda empolgada com ela. Silenciosamente.

E não pense que são apenas os jogadores que encaram essa ou aquela partida de maneira diferente. Os repórteres também. Trata-se de uma cumplicidade inconfessável.

O problema não é exatamente a fórmula, o Campeonato Paulista. O problema é que as mazelas do futebol brasileiro foram corroendo a estrutura, a força , a vitalidade dos pequenos clubes. Clubes que deram status para muita gente por esse interiorzão à fora.

Mas que tipo de futebol podemos esperar de um reino onde o equilíbrio está seriamente ameaçado? Comprometido mesmo.

A nossa realidade repleta de investidores, de direitos federativos repartidos, de transações com o exterior, de procuradores bem sucedidos, está a ponto de fazer dos pequenos times meros figurantes, cujo papel, às vezes, pode ganhar certa importância. E só.

Não é difícil compreender que o tempo passou, ácido, transformando tudo, tecendo novas coisas obsoletas. Ok, entendo. Não dá mais! Quem sabe?


Só acho que o respeitável Campeonato Paulista não deveria sair de cena de forma tão melancólica. Merecia reverência maior. Em nome da nossa história, da nossa memória.

Muitos já jogaram a toalha, pressentindo, é provável, que recuperá-lo só será possível no dia em que nosso futebol estiver curado dessas chagas que lhe fazem adoecer.


Num futuro próximo, o domingo vindouro pode não ter mais um Palmeiras e Corinthians como o que se aproxima, mas que eu ainda espero ansioso.



* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Vladir,

e veja o que foi preciso para quebrar um pouco essa apatia do Paulistinha. Um jogador com futebol de qualidade!!!!

Ronaldo mostrou domingo em poucos minutos a diferença que faz um craque de verdade no campeonato.

Sou são paulina, mas estou adorando a presença dele no Corinthians. Acho que daqui para frente as coisas vão melhorar.

Parabéns pelo programa Cartão Verde, só é uma pena que eu não esteja conseguindo acompanhar ao vivo, 20h está um pouco cedo para mim, mas tudo bem, sempre que eu puder, estarei com vcs!!!
beijo

Vladir Lemos, jornalista disse...

Cris,

concordo contigo, essa coisa do Ronaldo escancarou como estamos carentes de ídolos no futebol.
E, olha, já tinha sentido a ausência dos seus e.mails. Agora sei pq.

Agradeço a visita

Abç

Anônimo disse...

Vladir,

eu descobri seu blog lá no blog do Vitor. Já coloquei nos meus favoritos e vou passar por aqui sempre que puder.

Aproveitei para ler vários posts mais antigos e gostei muito.

Parabéns!!! Adoro quando acho leitura inteligente na internet!!!

bj