sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Educar vale ouro

A coisa mais proveitosa dos debates sobre a campanha da delegação brasileira em Pequim foi fazer soar na grande mídia a existência da educação física. Muito se fala sobre esporte, mas sobre educação física, nada.

Tempos atrás fiz uma série de reportagens sobre as cinco regiões com pior índice de desenvolvimento humano da capital paulista. Parelheiros... São Mateus... Marsilac, na qual chegamos depois de percorrer mais de sessenta quilômetros por entre avenidas e ruas. Pasmem, mas é possível, sim, percorrer mais de sessenta quilômetros sem sair dessa cidade.

Nossa intenção era registrar a relação das crianças desses bairros com a educação física, as condições em que elas praticavam esporte. O que encontramos não foi novidade. Escolas sem quadras, sem aulas desse tipo, escolas abandonadas em paragens com índice de analfabetismo nas alturas. Sem contar que boa parte delas quando tinha quadra, não tinha equipamentos, bolas.

Naqueles dias o que vimos foi também o futebol reinando absoluto, o que parece explicar bem nosso desempenho muitas vezes invejável nessa modalidade. Por lá, a pelada ainda come solta nas pracinhas, nos campinhos de terra, nos de várzea. Mas nem sempre há uma bola.

Não quero tornar aborrecido esse nosso encontro que prezo tanto, mas vocês não acham que se o nosso presidente anda mesmo preocupado com o povo, propondo até criar uma nova empresa só para explorar parte de nossas reservas naturais e gerar receitas para combater a nossa miséria, deveria também virar nossa doação ao Comitê Olímpico Brasileiro ao avesso?

Nada dessa determinação atual que só obriga o COB a investir 10% de todo o dinheiro que recebe das loterias no desporto escolar, e outros míseros 5% no universitário. Que tal, fazer o contrário? Deixar o esporte de alto rendimento - que tanto seduz nossos patrocinadores estatais - com esses quinze por cento, e investir os outros 85% nas escolas e universidades? Quadras e bolas novas à disposição da meninada seriam um grande incentivo.

Como pode sonhar em ser nadador quem nunca esteve em uma piscina? Quem sonhará ser um astro do revezamento sem jamais ter sido apresentado a uma pista de atletismo? A maioria segue anos-luz da possibilidade de galgar um pódio no futuro. Fazer do Brasil um país de esportistas exige compromissos. Exige também que nossos professores de educação física não se rendam à facilidade de deixar a turminha bater bola.

Tenho sérias dúvidas de que o esporte em seu grau máximo de profissionalismo possa guardar certas virtudes, como a disciplina e tantas outras, mas não hesito em dizer que o esporte, em sua essência, é um grande aliado. Somos uma imensa nação tropical e populosa, mas antes disso, um bando de excluídos, cujo tamanho talvez possamos calcular dividindo três medalhas de ouro por mais de cento e oitenta milhões. Uma equação perversa, que as contas dos nossos dirigentes não querem desfazer.

O que o Brasil precisa pra se tornar uma potência esportiva não é virar sede dos Jogos Olímpicos, é construir uma nação com direito a praticar em condições dignas a boa e velha aula de educação física.

4 comentários:

Anônimo disse...

É que vivemos no País às avessas, Vladir. Que sigamos ao menos cumprindo o nosso papel, que é informar, questionar, fazer com que as pessoas discutam suas funções na sociedade. Abs!

Anônimo disse...

O Nusmam é o único que ainda não entendeu isso. Esqueçam o Rio 2016 e melhorem as condições das escolas para a prática desportiva assim surgirâo vários atletas de auto-rendimento, estudei em uma escola estadual que na época tinha tr~es quadras desportivas e que revelou vários jogadores de volei que chegaram a seleções paulista de base e inclusive dois chegaram a seleção brasileira adulta e iniciaram jogando volei na escola. Acorda Nusmam.

Vladir Lemos, jornalista disse...

Villani,

estamos aí, fazendo o possível para dar conta dos nossos deveres. Seria muito bom que nossos dirigentes tivessem a mesma preocupação,né?

Abç

Vladir Lemos, jornalista disse...

Interessante essa história de vários jogadores revelados. Sem falar que escola estadual com três quadras parece sonho.

Abç