sábado, 17 de maio de 2008

Um olhar sobre a história

Os dias têm me insinuado que ver o tempo passar e não se render ao saudosismo é um desafio dos grandes, muito maior do que esse que o Corinthians acaba de encontrar ao iniciar sua saga pela série B. O futebol é uma boa prova disso, mas não é a única. Tá cheio de gente por aí, debruçada sobre as referências do passado como se ele ainda fosse possível. E o pior, é que essa insistência em comparar épocas distintas só ajuda a deixar ainda mais evidente a pobreza vista nos gramados atuais.

Eu sei, os saudosistas já devem estar de veias estufadas, bradando algo como: "Quem esse moleque pensa que é? Diz isso porque não viu Pelé jogar!". Tá certo, não vi mesmo, mas que culpa tenho por não ter nascido antes?

Saibam que isso não me alegra nem um pouco. Ao tocar no assunto, quase não me perdôo, por jamais ter perguntado ao meu pai, se um dia, ele me levou a um estádio em que se apresentava o Rei. Ainda que minha memória não tenha gravado um único flash do acontecido, a confirmação me confortaria, não tenho a mínima dúvida.

Saudosistas, fiquem calmos, ninguém será capaz de apagar o virtuosismo e a elegância de um Nilton Santos, de um Didi ou de um Zizinho. Ninguém será capaz de ameaçar aqueles que através da bola ganharam outra dimensão.

E olha, dizer que nunca pude ver Pelé jogar, não é uma verdade absoluta. Lembro muito bem do dia em que o CT do Santos foi inaugurado. As traves virgens aguardavam, claro, o Rei. Ainda posso ver a cena. Pelé chegou, segurou a bola. Mirou a luz do sol. Indicou o melhor lugar para o batalhão de fotógrafos e cinegrafistas. E, então, soltou a bola no chão e, narrando seus próprios movimentos, a chutou de encontro à rede. Deu até Jornal Nacional, lógico. E eu nunca mais esqueci aqueles segundos. Acho até que não seria muito diferente se o craque em questão fosse um Pagão ou um Mané Garrincha.

Fazer o quê? Nessa vida não se pode tudo.

Mas, esta semana, ao ler o artigo escrito por José Miguel Wisnik para a revista PIAUÍ, intitulado "São Vicente e Pelé", vivi o inverso desse sentimento de limitação temporal. Nas palavras do ensaísta e professor de Literatura, embarquei num passeio delirante pelo futebol da Baixada Santista da década de cinqüenta e sessenta. E nelas encontrei o Continental, o Beija-Flor, o Itararé. Times que eu vi jogar, como o Paulistano, onde o clima era sempre de rivalidade pura. Esses esquadrões cravaram nas minhas lembranças lances inesquecíveis, e gols que alegraram muitos domingos.

Então, em silêncio comigo, inundado por uma saudade imensa, pensei. Talvez não os tenha visto no auge, mas vi, ô se vi.

4 comentários:

Anônimo disse...

Fala Vladir!

Não acompanhei essa fase maravilhosa do futebol, mas lendo suas linhas digitais de saudade, me bateu a lembrança do meus tempos de menino quando aqui na minha cidade (Limeira/SP) eu saia sozinho de minha casa e caminhava até o Limeirão para acompanhar as partidas da Inter. Me Lembro q criança até 12 anos acompanhada entrava de graça. Acompanhei muitas partidas e fiz muitas amizades nas arquibancadas. Hoje, infelizmente, pela fase do time (joga 3 meses por ano) e pela violência (acredite, mesmo com 200 pagantes sai briga...) deixei de acompanhar jogos no estádio e me contento com o futebol na TV...

Mas sinto falta dos meus amigos de arquibancada...

Belo post, parabéns...

[]s
Cláudio Maesi

Vladir Lemos, jornalista disse...

Claudio,

se viu, ou não viu, pouco importa. O que vale, no meu entender, é essa memória do futebol em estado mais puro que a gente traz dentro da gente. Seja em São Vicente, em Limeira, seja onde for.
Sobre a violência,pra ser sincero, nem dá vontade de comentar.

Grande abraço

Anônimo disse...

Vladir, saudades de coisas que vivemos e até mesmo não vivemos fazem parte do homem. Com o futebol não é diferente. Claro que não conseguimos e nem devemos esquecer a memória de quando éramos crianças e os jogos pareciam mais perfeitos. O futebol pode ter mudado para pior, mas o envelhecimento de cada um contribui para que essa queda seja acentuada. De fato, é difícil não se render ao saudosismo, mas é necessário tentar. Claro, sem esquecer as lembranças...

Abs,

Maurício Fernandes.

Vladir Lemos, jornalista disse...

Maurício,

concordo contigo, acho até que precisamos nos policiar para evitar que a saudade não tome conta de tudo. Até brinquei um pouco com isso no post. Primeiro fiz "pouco caso", depois me rendi... a ela.

Abç