Alexandre Schneider/Getty Images
Olha, a volta não é fácil. Todos os que tiraram alguns dias para descansar sabem bem disso. Já não falo em férias porque sou levado a crer que a realidade do mercado de trabalho brasileiro fez delas um luxo. E como qualquer luxo não é coisa da qual se possa tirar conclusões que sirvam para o todo. Aos que voltam a dar de cara comigo depois de um período desses e fazem aquela fatídica pergunta: como foi? Costumo brincar afirmando que é duro voltar, mas a gente acostuma. Frase sempre seguida de um risinho sacana. Digo a vocês que a maior virtude de um período de descanso é nos jogar na cara o quanto a nossa rotina é cruel. Seja como for, fato é que estou na área. E, estando, uma das coisas que de cara testaram minha paciência foi o comportamento pouco civilizado dos praticantes profissionais do nosso velho esporte bretão.
Sobre a cera dos goleiros já tinha tido a oportunidade de falar neste espaço, elencando ideias e iniciativas pensadas aqui e alhures pra tentar colocar os arqueiros na linha. O do Vasco pode até ter sido injustiçado, mas não terá sido à toa. Já nas arquibancadas, outrora tidas como terra de ninguém, onde praticamente tudo era tido como normal, incluído aí cenas que beiravam a barbárie, pelo que vejo agora se cobra um comportamento de nobre. Onde o torcedor que não conseguir segurar um grito de mercenário para alguém que ganha milhões corre o risco de ser intimado pelo próprio. Enquanto isso, em campo, o clima é quase de vale tudo. E que diga que estou exagerando aquele que diante de berros e palavrões proferidos olho no olho com os árbitros já não pensou: agora esse cara vai ser expulso. Mas, meio sem acreditar, acaba testemunhando que o homem do apito deixou por isso mesmo.
E muitas vezes nem se trata do capitão do time que, em tese, poderia fazer essa interlocução. Se é que o que se dá pode ser chamado de interlocução. E na beira do gramado? Bom, ali na área reservada aos ditos professores, a linha de conduta é muito parecida. E acho que não seria exagero afirmar que o técnico do Palmeiras se fez o grande baluarte desse tipo condenável de comportamento. O português mete a boca, como diziam antigamente. Um dia depois do jogo entre Corinthians e Palmeiras cheguei na redação e a conversa se alimentava do tema. Os envolvidos se mostravam indignados com a reação de Abel Ferreira na coletiva pós jogo, quando disse que estava desiludido com o que viu, levantou, e foi embora. Grosseria que ele repetiu no final de semana. Talvez Abel não saiba, mas não há desrespeito maior que se possa fazer a um repórter.
E como observou um dos que participavam do papo - fazendo coro ao que tem se ouvido por aí - Abel não respeita ninguém. Não respeita o adversário. Não respeita o juiz. Não respeita jornalista. E depois de tudo que já vimos, me digam, como discordar de uma observação dessas? Agora, das feitas por ele, gostei particularmente de uma. Foi quando Abel disse o seguinte: estamos no século vinte e um e andamos a trabalhar com ferramentas do século passado. Ainda que dito de maneira enviesada, porque com a intenção de colocar o VAR em dúvida, sigo considerando uma aberração mesmo não darmos a arbitragem o amparo de tecnologias como a da linha do gol e a do impedimento semiautomático. Não seria a solução de tudo, seria uma ajuda imensa. Mas voltando ao nosso personagem, homem esclarecido que é, deveria se ligar que a essa altura nada soa tão antigo e antiquado quanto querer ganhar no grito.