Entre tantas constatações a que o futebol nos tem levado aquela que diz que o jogo anda chato costuma soar insistente. Mas é interessante notar que quando alguém vem com essa muitas vezes não quer colocar no divã o jogo. Quase sempre o comentário diz respeito aos que o praticam. Há por trás de tal colocação a saudade de certos personagens que com seu jeitão acabavam por emprestar alguma graça ao futebol. Foi-se o tempo em que artilheiros usavam os microfones dos repórteres para fazer apostas antes de um clássico e tal. Sou capaz até de afirmar que foi com essa tática que muito jogador meia boca ao longo da história se fez notar e garantiu um lugar de destaque nela sem que a habilidade com a bola lhe fosse realmente fina.
Nesse universo tivemos um fora de série, Dadá Maravilha, cujo virtuosismo retórico dispensava coadjuvantes ou desafiados tamanha era a capacidade dele para se autodefinir e se promover que não tenho medo de lhe apontar como exemplo mor dessa arte. Tipos eram muitos. Mesmo Renato Portaluppi, hoje treinador do Grêmio, quando jogador integrou esse time. Mas com um discurso cuja receita não disfarçava uma dose alta de malandragem e vaidade. Esse vazio mostra bem a pobreza do futebol já que até de personagens falastrões andamos carentes. E se aqui faço uma ode aos que deram notória contribuição para tornar menos chato o jogo aproveito pra dizer que tiro o chapéu para os que foram capazes de colocar na fórmula os adversários a tornando mais humana.
Deyverson, o Deyvinho, que hoje veste a camisa do Atlético e virou notícia na vitória do time mineiro sobre o Grêmio dias atrás há tempos tenta um lugar no panteão dos folclóricos. Perguntado sobre o fuzuê que encenou com os adversários se defendeu dizendo que era assumidamente um provocador e que não teria como mudar de estilo. Foi acusado de querer crescer pra cima de um jovem lateral que iniciava pela primeira vez uma partida como titular. E, se assim foi, o ato se vestiu mais da velha malandragem do quede estilo. É fato que não tivesse Deyvinho vira e mexe marcado gols importantes seu viés presepeiro já estaria escancarado. Mas Deyvinho não é exatamente o cara do sarro saudável, do tipo que chama para cena um adversário.
Não custa lembrar que muitos dos desafios que jogadores de outros tempos encaravam tinham até uma pegada social pois a moeda cansou de ser doação de cestas básicas. Confesso que considero Deyvinho figura simpática mas a provocação dele redunda em desserviço para o futebol brasileiro onde encenações grotescas só engrossam a chatice do jogo. Já entrou para a história o lance na final da Libertadores diante do Flamengo em que Deyverson se atira ao chão, simulando dores lancinantes, sem se dar conta de que o leve toque que tinha recebido nas costas havia sido dado pelo juiz da partida. Um caso explícito em que um gol importante acabou - sem que se notasse - lhe servindo de atenuante. De outra forma justificaria o veredicto de que tem mais vocação para a comédia do que para o futebol. Além do mais, até hoje o único provocador verdadeiramente elogiável que conheci atendia pelo nome de Antônio Abujamra. Que aliás, me disse mais de uma vez que tinha jogado no Internacional e, creiam, mandado para reserva o lateral Oreco, por sua vez reserva de Nilton Santos na Copa de 58. Se liga, Deyvinho!
Nenhum comentário:
Postar um comentário