quinta-feira, 4 de abril de 2024

Sobre manipulações



Tivesse a derrocada do Botafogo no Campeonato Brasileiro do ano passado se dado de modo menos evidente, com lances desses cabeludos, polêmicos, talvez fosse mais fácil entender onde quer chegar o americano John Textor, dono da SAF que adquiriu o Botafogo há dois anos. Não é o caso, o time figurativamente se desintegrou depois de liderar o torneio a maior parte do tempo. Duas realidades tão díspares que eu também não tiraria a razão de quem viesse a desconfiar que a evolução meteórica do time carioca tivesse por trás algum método menos ortodoxo. Até porque somos livres para desconfiar, o que é infinitamente diferente de acusar sem provas. 

Textor literalmente tem se esforçado sobremaneira para colocar fogo no circo. De onde é possível concluir também que ou ele sabe verdadeiramente de coisas que ninguém sabe ou tem sido um inconsequente.  Entre as declarações que deu, me chamou  atenção ter dito que enviou o material  que tinha à CBF para em seguida dizer que tendo feito isso não saberia dizer exatamente quem o recebeu. E mais tarde imprudentemente apontou para clubes como o Fortaleza, o Palmeiras e o São Paulo. Todos bradando em uníssono que irão tomar as atitudes judiciais cabíveis. Quando riscou o primeiro fósforo apontou um suposto esquema de manipulação de resultados. 

Acusação que levou todo mundo a crer que teria se dado no universo em que o clube dele transita. Eis que o americano que fez fortuna na indústria do entretenimento, quando todos esperavam a bomba, veio com uma conversa de que o caso teria se dado em uma divisão menor, infinitamente menor. Intimado a apresentar as provas não o fez e acabou denunciado pela procuradoria -geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva. Ao descumprir a decisão  foi denunciado em artigo que prevê pena que pode ir de 90 a 360 dias de suspensão. É de se supor também que tendo colocado parte de sua fortuna no futebol brasileiro e dando de cara com indícios de que o mesmo estaria sendo manipulado decidiu que a melhor tática seria colocar a boca no trombone. 

Até onde entendi os relatórios que forneceram os dados para que Textor tomasse pra si o papel de acusador são frutos da tão falada inteligência artificial. Vai saber o que não daria pra afirmar cruzando dados a respeito de tudo o que acontece em campo. Impossível que como homem de negócios experiente que é não tenha notado o quanto tudo foi feito de modo a causar impacto. Se há manipulação outros clubes podem estar interessados em saber como ela anda se dando. Poderiam ser parceiros de ações coordenadas. O que me faz crer que Textor considera que forçar esse assunto na mídia seria, ao menos, parte da estratégia ideal. 

Como não nasci ontem e sou por natureza um sujeito desconfiado começo a acreditar que pode não ser apenas coincidência que tudo isso venha à tona justamente no momento em que uma CPI no Senado se prepara para investigar a fundo a manipulação de resultados no futebol brasileiro. A criação da comissão foi requerida pelo ex-jogador Romário, atualmente senador pelo PL do Rio, que por sua vez embasou o pedido em relatórios de uma empresa que analisa dados em tempo real  a fim de encontrar movimentações suspeitas em casas de apostas e que colocou sob suspeita 109 jogos do Brasileirão do ano passado. Resta saber como se comportará  John Textor até o próximo dia 15, quando será julgado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

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