quinta-feira, 7 de maio de 2020

Driblando o presente






Nas últimas semanas andei por aí. Visitando outros tempos. Não que o interesse pela história em mim seja novo. Mas devo admitir que tais passeios tiveram, sim, a alma do drible. Um modo de colocar a bola entre as pernas dessa realidade dura que nos foi imposta. Aliás, o drible sempre nos será perfeita analogia. Viver não deixa de ser o exercício dele. A vida vai se apresentando, e nós, diante dela vamos sendo obrigados a decidir que caminho tomar pra conseguir chegar lá na frente. O que fazemos todos, uns de modo bem mais engajado e consciente. Outros, nem tanto. O que não deve nos espantar. Desde sempre a sentença que dizem cada um nós traz na cabeça é que embolou o jogo.


Li em algum lugar certa vez - e gosto sempre de lembrar - que o passado nos seduz porque é um tempo sem angústias. Decidido. Verdade, ou não, ele nos dá algo que o presente está longe de ofertar. E se abraçamos o presente, o que nos sobra? Um futebol plasticamente empobrecido. Lembram dele? Declarações razoavelmente bem colocadas de certos dirigentes dizendo que não faz o menor sentido neste momento discutir se a bola deve ou não deve rolar, enquanto sabemos que nos bastidores o que pode ser feito para encaminhar a coisa nesse sentido vai sendo feito.


Melhor, então, tentar encontrar algo que dê alguma graça aos dias. Como, por exemplo, a lista feita com os trinta jogadores mais legais da história. Alguns que vi por lá, juro, não tinha tão atrelados a esse amplo adjetivo. Como o lendário, Puskas, que desconfio figure na lista realmente pelo que jogava, ainda que tenha fama de gente fina. Maradona, obviamente, não me causou espanto. Mas a alegria me veio por ter visto que apenas dois brasileiros figuravam entre eles. Anunciados na matéria como dois corintianos, o que a história seria capaz de mostrar que nem sempre.


Dois craques. Um deles o saudoso, Sócrates Brasileiro, o Magrão. Um cara que só de lembrar do sorriso dele noite adentro já coloco meu coração em teste. E o outro, também herança que a profissão me deixa, um dos maiores ícones do nosso futebol: Roberto Rivellino. Dono de um estilo bonito, inconfundível. Campeão do mundo. Fã de uma boa pizza de aliche, como eu. E com quem ainda tenho o prazer de conviver. Não por acaso , com um ou com outro, sempre foi inevitável falar do passado. E, por que não dizer, prazerosamente driblar o presente.

* artigo escrito para o jornal " A Tribuna", de Santos/SP

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