quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Quem manda no futebol?




Até outro dia eu estava praticamente convencido de que a International Board, o órgão que cuida das regras, de dizer o que pode e o que não pode no jogo de bola, mandava e ponto. Aparando, claro, um descontentamento aqui outro acolá. Mas eis que ele foi peitado pelos cartolas do futebol inglês. E o que aconteceu por lá deve nos servir não só de lição como pode nos dar um norte nessa questão tão urgente que tem sido a utilização do VAR no Brasil. O cuidado com que o tema foi tratado por eles é um verdadeiro tapa na nossa cara. No ano passado usaram a Copa da Inglaterra e a Copa da Liga Inglesa como laboratório. Testaram o sistema em jogos da principal divisão sem que houvesse conversas  entre a cabine e o árbitro que apitava o jogo, ou reversão em virtude do que estavam vendo. Enfim, se certificaram de que a novidade não geraria o caos, como temos visto.

Situação totalmente diferente da que vivemos, primeiro com o presidente da CBF na época prometendo que o VAR seria implantado quase que imediatamente.  Não sei se lembram, mas foi depois daquele gol de mão anotado por Jô que deu ao Corinthians a vitória sobre o Vasco. Pura bravata. Quando muito tempo depois tudo estava decidido, na hora de pagar a conta foi aquele quiprocó. Mas a lição vai muito além do cuidado, do planejamento. Está também na coragem e nos pontos precisos  preservados pelos ingleses. Sim, eles preservaram antigas normas que a meu ver jamais deveriam ter sido alteradas. 

Sobre as mudanças não terem sido bem digeridas pelo Board o diretor técnico da Premier League foi direto. Afirmou que se trata de um assunto a ser definido pelas autoridades do futebol na Inglaterra, não por eles. E quando digo normas antigas, falo de apontar o impedimento quando ele se torna óbvio e, principalmente, preservar a interpretação na hora marcar penalidades em lances de bola na mão. Forçar os zagueiros a manter os braços atrás do corpo é algo antinatural, disseram. E lá, onde praticamente todas as arenas possuem telões, será mostrado o replay quando a marcação for alterada. E , vejam o detalhe, pela TV os telespectadores acompanharão as mesmas imagens usadas pelo VAR. O que evita esse limbo criado aqui, um verdadeiro vácuo, em que nem pela TV e nem da arquibancada é possível saber com exatidão o que está se passando.  

Outros cuidados são um desafio, desses que mesmo se tratando do futebol inglês prefiro ver para crer, como determinar a verificação das jogadas e tomar a decisão antes da celebração dos jogadores chegar ao fim. Mas é bom não duvidar. Seria quase humilhação pra nós. Mais do que a lição imposta por uma tecnologia, fica nesse capítulo também uma lição de postura. Peitar os poderosos exige coragem. Fica o exemplo para a CBF em relação à FIFA e ao Board, como também aos clubes brasileiros, sempre uns cordeirinhos,  que em nome de preservar a boa relação e os lucros aceitam colocar em risco o próprio negócio. Pode parecer exagero. Tudo bem, que o futebol não vai acabar não vai, mas como já disse se essa bagunça continuar a perda será inevitável. Se não perder grana, vai perder em emoção. E em matéria de futebol , emoção é dinheiro. Ou não é?


* artigo escrito para o jornal " A tribuna", de santos

Um comentário:

Adriano Ávila - Futbox.com disse...

Grande Vladir Lemos! Parabéns pelo blog e pelo excelente jornalismos esportivo do Cartão Verde. Conhece o Portal Futbox.com? Somos um Centro de Pesquisa Gráfica sobre Futebol. Abraços!