quarta-feira, 5 de junho de 2019

Nosso bravo futebol feminino



Agora vai. Essa tem sido a sensação que me vem quando penso no nosso futebol feminino. Infelizmente não é a primeira vez. Espero que ela tenha voltado com maior precisão. E digo isso não pelo fato de estarmos na véspera da abertura Copa do Mundo de Futebol Feminino e também não tem nada a ver com as expectativas que alimento com relação ao time brasileiro. O retrospecto da equipe dirigida por Vadão dinamita a mínima empolgação. Nove derrotas nos últimos nove jogos. Mas há como neutralizar esse anticlímax. Estar ciente das dificuldades que nossas jogadoras enfrentaram. E como foram, ao longo da história, capazes de alcançar resultados infinitamente maiores do que as chances que tiveram.

Vale lembrar que enquanto alimentamos dúvidas sobre a campanha que a seleção masculina fará na Copa América as meninas no ano passado venceram a mesma competição de maneira invicta, marcando trinta e um gols e sofrendo apenas dois. Foi assim que garantiram um lugar no Mundial e outro na Olímpiada de Tóquio.  Ou seja, desafiar probabilidades é algo que foram obrigadas a fazer desde sempre. O que poderia ser dito também a respeito de outras tantas seleções femininas, inclusive a da Jamaica, a primeira  da região do caribe a conquistar uma vaga na Copa do Mundo, e nossa adversária do próximo sábado no jogo de estreia.




As Reggae Girlz, como são chamadas, só chegaram lá porque anos atrás a filha de Bob Marley, indignada com a situação que a equipe atravessava, através da Fundação que leva o nome de seu pai , liderou uma campanha mundial com a intenção de arrecadar fundos e reativar o time. Não há dúvida de que o Mundial será de grande valia. Ajudará a manter o futebol feminino em evidência no instante em que aqui ele ganha espaço. Pela primeira vez nossa seleção terá todos os jogos transmitidos pela maior emissora do país e esse  pode ser o maior  sintoma de que anda mesmo desfrutando de um outro status. 

Esse vento a favor, é bom que se diga, pouco tem a ver com a sensibilidade dos cartolas e mais com a exigência feita aos times que disputam a primeira divisão do futebol brasileiro de ter, a partir deste ano, um time feminino adulto e de base. Antes da tal exigência apenas sete dos vinte clubes que disputam o torneio mantinham a modalidade de forma estruturada. Nem por isso temos flertado com o ideal como bem lembrou a técnica do Santos e ex-comandante da nossa seleção feminina, Emily Lima, em recente entrevista ao programa Cartão Verde, fazendo questão de ressaltar que seguimos carentes de coisas básicas como ter as datas dos jogos dos campeonatos divulgadas com a antecedência adequada. Sem isso qualquer planejamento se torna impossível.



Há quarenta anos o Brasil se livrava do decreto do governo de Getúlio Vargas que proibia a prática de esportes "incompatíveis com a natureza feminina". Decreto que durou quase quatro décadas. A vontade de falar da realeza de Marta, dos quarenta e poucos anos de Formiga e seu sétimo mundial, é sempre grande, mas o que quero realmente ressaltar é que dar de cara com nossa seleção brasileira feminina em campo é um bom motivo para crer que o mundo anda pra frente, ainda que a velocidade do avanço nos cause indignação. 

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