quarta-feira, 16 de março de 2016

O outro jogo


Não sei qual é seu time. Não faço ideia das razões que o levaram a defender as suas cores. Só gostaria de dizer que não me passa esse clima de rivalidade total, quando na verdade o jogo que está sendo decidido é outro e pede mais razão do que emoção. Esse enfrentamento nada tem de majestoso. O espetáculo que hora se revela é tão triste que não há lado que tenha o que comemorar. A realidade é uma só. E evidente. O ingresso está caro pra todos. O serviço que está sendo entregue é de revoltar. Os encarregados de colocar em prática a melhor tática pro momento estão tentando salvar a própria pele e só. Alguns com a cabeça à prêmio. E caso decidam gritar seu descontentamento saibam, de antemão, que burro nesse caso é adjetivo que não cabe. 

E já que entramos no assunto, vamos jogar o jogo. O que me preocupa é que o tempo passa, que quando olhamos ao redor  tudo o que podemos vislumbrar é esse nada novo deserto de homens. Isso mesmo, nesse campo não há um Neymar pra desequilibrar. Não há pra quem tocar a bola. E não há, portanto, o que nos faça acreditar na  possibilidade de virar esse bendito jogo com a rapidez que a situação exige. E agora? Bom, agora as janelas se encheram de bandeiras. Mas torcemos imbuídos de um nacionalismo esquisito, duvidoso até. Não que não haja beleza quando, num domingo qualquer de um final de verão, a torcida decide entrar em cena com todo o ânimo. 

O sufoco está aí, nada tem de irreal. Aumenta a olhos vistos. Mas como há sempre uma lição pra se tirar de tudo é bem possível que a iminência dessa derrota que nos assombra nos faça aprender que futebol é só futebol. O jogo, o jogo pra valer é esse outro. Obviamente sei bem como seria pobre ter uma torcida sem convicções, sem ideologias, sem crenças. Nessa hora o temor, o meu temor, é que lá no fundo - nesse outro jogo - somos todos torcedores de um mesmo time. Mas aí olho ao redor e vejo que a torcida se dividiu. Rachou ! 

E rachou sem ser capaz de criar, ao menos,  algumas nuances em cada uma dessas divisões. O que espelharia algum tipo de riqueza, que não fosse só essa riqueza desde sempre arrancada à força do nosso chão. Seria o mínimo. Mas seria mais do que temos, ou não seria? E como é impossível deixar esse jogo, como é impossível fazer substituições sem pagar um preço, prefiro manter intacta a minha mania de sonhar e seguir acreditando que uma hora dessas essa torcida imensa ainda vai dar liga. E aí, ai de quem ousar não atendê-la


Foto: Dirceu Portugal / La imagem

Nenhum comentário: