quarta-feira, 4 de junho de 2014

Carta ao turista


Sabendo que a Copa está aí e você já pode estar aqui decidi dedicar estas linhas a quem, podendo escolher qualquer canto do planeta, resolveu visitar o Brasil. Não estranhe o meu tom intimista. Faz parte do nosso jeito. Somos um povo que costuma parecer íntimo sem o ser. Em geral, temos certa dificuldade para conter as mãos e certos ímpetos. Portanto, uma vez aqui, se ao ser apresentado para alguém receber como cumprimento um ou dois beijos dados com entusiasmo faça cara de quem achou a coisa mais normal do mundo.

Sei que depois de tudo que anda sendo dito por aí sobre o nosso país não será fácil relaxar. Aquela revista ou jornal de imenso prestígio que você costuma ler não estava totalmente errada ao dizer o que disse do Brasil. Mas se tem uma coisa que será de fácil constatação por aqui é ver que mesmo diante de uma realidade cruel é possível sim curtir a vida e fazer de conta que não está acontecendo nada. Se puder não deixe de ir ao Rio ou à Bahia, mas podendo também vá até Minas Gerais. Minas tem um povo hospitaleiro e tanta história e culinária quanto nossos Estados mais cortejados. Só não tem praia. Mas não precisa lembrar isso a ninguém de lá.

E não vá achando que o que temos de melhor em matéria de música é o que você ouvirá nas rádios. Nada disso. Se quiser alguma coisa além de Garota de Ipanema, que certamente você já cansou de ouvir, vá atrás de um Jorge Ben antigo, um Paulinho da Viola. Como experiência cotidiana não deixe de tomar um café com leite e comer um pão com manteiga em alguma padaria. Sei que se trata de iguaria que pode ser encontrada em qualquer lugar mas aqui há na degustação in loco desse breve cardápio matinal algo de social. Tanto que quando um dos nossos políticos quer parecer, digamos, um cidadão comum, trata logo de ser fotografado numa padaria qualquer tomando café com leite e comendo um pãozinho com manteiga.

Outra coisa importante, sempre confira a conta, brasileiros são muito distraídos. Imagino que vocês tenham palavra melhor para isso. Ah, Outro detalhe! Não se acanhe em beber no seu ritmo, deixe isso bem claro ao garçom, que de outro modo pode insistir em fazê-lo beber no ritmo dele. Ou seja, ainda estarão no seu copo uns dois ou até três dedos de chopp e ele já virá lhe empurrando um novo. Pra encerrar, afinal você está aqui para aproveitar, existe aqui entre nós um tipo difícil de explicar. São conhecidos como flanelinhas, se apresentam dispostos a cuidar do seu carro, mas o que praticam é pura extorsão. Onde já se viu ter de pagar pra deixar o carro na rua, não é? Muitos cobram adiantado e, claro, quando você volta, eles não estão mais lá. Por isso, se você estiver de carro, antes de sair pra algum lugar se informe se é fácil estacionar no local. Se te disserem que esses tipos abundam no seu destino, se possível, vá de carona, transporte público, táxi. Pois se existe um ditado entre nós que faz sentido é um que diz o seguinte: "O barato, às vezes, sai caro".


No mais, bem vindo. E boa Copa.

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