sexta-feira, 18 de junho de 2010

Em nome da bola

O assunto ficou pingando na área, vocês sabem. De minha parte, penso que a bola deveria ser inatacável. Vê-la na condição de ré me causa certo constrangimento. Tão redonda e desafiadora. Ainda mais quando se trata dessas que têm os gomos cuidadosamente unidos para servir a nata do esporte bretão.

Como se não bastasse maltratá-la com os pés, agora deram para ofendê-la, deram para difamá-la. Sabe-se lá com que interesses. Por pior que seja, a difamada Jabulani deve ter lá suas qualidades, cuidadosamente moldadas em laboratórios de alta tecnologia e última geração.

Pensando bem, e levando em conta a qualidade técnica que temos visto por aí, faz muito sentido que as estrelas, de repente, se vejam ameaçadas por ela. Vou além. Traiçoeira ou não, será a mesma para todos. A bola tem espírito nobre, jamais deixaria alguém em desvantagem.

Estranhar a bola, é quase do jogo. Recordo que quando menino muitas vezes na hora da pelada escolher a bola era motivo de briga. Se fosse jogo contra o time de outra rua, aí nem se fala. A coitada recebia todo tipo de insulto. Era acusada de estar velha, murcha, dura, pingando demais, de menos. Em geral, era o time que estava em casa que decidia qual delas iria rolar. Todo mundo sempre prefere jogar com a bola que está acostumado.

Falando nisso, tempos atrás tive que me desfazer de duas bolas. Uma de vôlei e uma de futebol. Sei que pode soar ridículo, mas não foi fácil. Depois de ter me divertido tanto com elas, me sentia como se estivesse tramando a pior das traições. De tanto adiar o momento encontrei um paliativo: fotografá-las! Seria uma maneira de guardá-las além da memória. E assim o fiz. Ao lembrar de tal fato, neste instante, é inevitável pensar nos pés e mãos de quem terão ido parar. Será que ainda fazem a alegria de alguém? Basta de reminiscências.

A bola, como eu dizia senhores, entre diversas injúrias, foi acusada de parecer ter sido "comprada em supermercado". Pois quando eu era moleque comprei e ganhei muita bola " de supermercado". E elas me deram muito alegria. Como toda a galera da rua, eu não nutria muita simpatia pelas que eram leves demais. Mas não as desprezava, é importante que se diga.

Gostávamos mesmo de uma um pouco mais pesada e resistente, e ela tinha nome: dente-de-leite.Era de plástico, sim, e vendida em supermercado. Toda branca, imitava o desenho clássico das bolas de couro, com os gomos em hexágono pintados em preto. Era o máximo. Um verdadeiro sonho de consumo. E nem vamos aqui falar nas bolas de meia, dos rachões frenéticos disputados com bolinha de tênis. Ah! Que saudade que me deu agora do "capotão" queimando o peito do pé a cada chute.

Pra mim, essa picuinha toda em torno da Jabulani, a bola oficial da Copa da África, vem provar um dos grandes pecados do futebol atual: ter se distanciado da essência do jogo.