quinta-feira, 25 de junho de 2009

Quem ela pensa que é?

O presidente da CBF chega a uma sala do estádio Loftus Versfeld, em Pretória, na África do Sul. Ao entrar percebe que de um lado da mesa onde será feita a reunião está todo o pessoal da FIFA, e do outro, os representantes do governo brasileiro. Diante da dúvida, precisou ajuda. Perguntou de que lado deveria se sentar. " Do nosso", teria dito o presidente da FIFA, Joseph Blatter.

O breve acontecimento foi relatado dias atrás. Estampado na página de um famoso diário, ocupou espaço mínimo, inversamente proporcional ao que representa. Veja. Saber de que lado estão as pessoas sempre foi informação preciosa.

Tarefa mais difícil teve o nosso ministro do Esporte, que precisou responder a quantas andam as isenções fiscais para a entidade máxima do futebol. Teria respondido que, no máximo, em três meses o tema entraria em votação. Diante disso podemos respirar aliviados. Afinal, ainda existe alguém neste país capaz de decifrar como funciona o nosso congresso, e a que velocidade.

A história também escancara a dimensão do poder de que desfruta a dona FIFA nos dias de hoje. Não que ela trate outros países de modo diferente. Talvez, em outras terras, ao menos encontre gente menos subserviente. E não há muita conversa com essa distinta senhora, desde muito tempo acostumada a mandar.

Trata-se de uma dama cortejada por homens importantes do mundo inteiro. Todos interessados nos dividendos que ela pode oferecer. Seus negócios se estendem por mais de duzentos países, numa teia de relacionamento capaz de superar até mesmo uma outra senhora muito bem relacionada, a ONU. Ela mesmo, a Organização das Nações Unidas.

A Dona FIFA não brinca em serviço, apesar de ter nascido do que um dia não passou da mais pura diversão. Seus asseclas jogam duro. Ainda em 2006, no início das tratativas, um dos seus mais altos dirigentes, ao ser perguntado se o Brasil teria condições de construir novos estádios, disparou, " Isso é ao governo brasileiro que o senhor deve perguntar".

Os homens da dona FIFA vão chegar em breve.

E terão assegurado o direito de entrar e sair do país incondicionalmente. Suas mercadorias para uso ligado ao evento estarão livres de impostos e qualquer outro tributo. E esses são apenas alguns privilégios de uma extensa lista. Como se não bastasse, a toda poderosa dama do futebol mundial vive em um mundo de sonhos. Um planeta rico, globalizado, e livre de concorrência. Vem daí boa parte da sua sedução.

O lado da mesa já pouco importa. As partes fecharam negócio. Estão juntas. Mas a FIFA dá as cartas. Quem ela pensa que é? Quem terá coragem de perguntar?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Um triunfo sobre a ignorância

Nesta semana eu sei que falar da seleção seria estar "up to date", como gostam de dizer alguns modernos. Tecer teorias a respeito das finais da Copa do Brasil, ou sobre os duelos da Taça Libertadores seria respeitar, de certo modo, o factual, como gostam de dizer os jornalistas.

Mas aproveito a minha liberdade de expressão para desobedecer a linha do tempo, que insiste em nos levar pra frente, sempre. Há exatos vinte e três dias, Diguinho, atleta do Fluminense, foi a principal vítima de uma invasão protagonizada por torcedores organizados ao estádio das Laranjeiras onde o time treinava.

Uma foto do ocorrido, estampada em alguns jornais no dia seguinte, mostrava o exato momento em que o jogador era atingido no rosto por um violento soco desferido por um dos líderes da gangue, que todo mundo por lá sabe quem é. Tão impressionante quanto o golpe era ver que os companheiros de clube continuavam sentados num banco próximo sem, ao menos, tentar livrar Diguinho da situação. A exceçao era, se não me falha a memória, o volante Fabinho.

Poderia ser uma demonstração de covardia, mas creio, era pura impotência. Quem pode deter a violência desse tipo de torcedor? A polícia? O Ministério Público? Naquele dia três tiros para o alto é que colocaram um ponto final no tumulto.

Os dias que se seguiram me deixaram ainda mais indignado. O agressor não foi autuado. E Diguinho até aceitou as desculpas dele. Cheguei a dizer por aí que só faltou Diguinho afirmar que tinha merecido. Não era só o jogador, era o Fluminense, de tanta tradição, que estava sendo intimidado.

Mas no último domingo, ao ver Diguinho deixar o Maracanã aplaudido pela torcida depois do empate com o Grêmio, fui logo pegando a caneta pra não deixar o fato passar em branco. Afinal, Diguinho estava há quase quatro meses sem jogar. Tinha vencido uma tuberculose pleural, diagnóstico, aliás, confirmado pelo departamento médico do Flu.

Foi acusado de estar curtindo a noite. Diante de tudo isso poderia ter pedido pra sair do clube, seria compreensível. Nada disso. Ficou e virou o jogo. Ou seja, passei a ver um corajoso, onde antes via apenas um jovem amedrontado. Na época, uma das versões era, inclusive, de que ele tinha apanhado por ter respondido de maneira áspera a uma pergunta do tal chefe de torcida. O que não deixa de ser também um ato de coragem.

A mente curta do agressor deve estar pensando a essa hora que a surra deu resultado, sem perceber que seu dono levou foi o chamado tapa com luva de pelica. Que humilhação!

Não interpretem minhas palavras como uma defesa do jogador, que eu nem conheço. Prefiro que elas sirvam para reforçar o quanto são ignorantes certos sujeitos que dizem fazer tudo o que for por amor ao clube.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Grana Esporte Clube ( A sedução das cifras )

Como jornalista sempre encarei os números do futebol com uma desconfiança enorme. Gostaria muito de fazer uma matéria mostrando as carteiras de trabalho dos nossos maiores craques. Imaginem aquele bendito campo salário preenchido com números seguidos de tantos zeros, como não despertaria a curiosidade e a inveja de trabalhadores comuns. Sem contar o sarro ao de dar de cara com a velha foto, e o prazer de descobrir a trajetória do dono da mesma através de registros pra lá de antigos.

Dirão os mais precavidos, seja qual for a intenção da precaução, que não vivemos mais numa época que permita falar de faturamento sem ficar exposto ao perigo. Os contabilistas, depois de um sorriso cínico, irão tentar colocar em xeque minha intenção dizendo que não é assim. Que na carteira está só uma pequena quantia, o resto vem como direito de imagem, através de notas, empresas etc e tal.

Ah! Mas como eu gostaria de ver cada uma dessas notas e suas guias de recolhimento. Como deve doer pagar imposto sobre um salário de quinhentos mil reais. Embora, doa mesmo é saber que quase nada nos será dado em troca. Sei que ver esse meu desejo satisfeito é mais difícil do que ver casamento de ....Deixa pra lá!

Esses números impressos em jornais, ditos em alto e bom som na TV, exaltados por comentaristas, sob certa ótica, além de tudo, seduzem, quase compram manchetes. Afinal, a mídia é parte do negócio. Mas antes de comprar é preciso esquentar a transação, fazê-la ecoar, torná-la de conhecimento mundial, esperar o Berlusconi encarar a votação para o Parlamento Europeu.

É preciso ser cirúrgico na hora de bater o martelo. Fazê-lo momentos antes da nossa seleção partir para a África e ficar na vitrine do mundo, não é acaso. Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, o homem por trás do negócio, sabe disso. Está acostumado com grandes somas.

É dono de uma das maiores construtoras da Europa. Sexta fortuna da Espanha. Tão esperto que ao pressentir, tempos atrás, o esgotamento do setor imobiliário, sem titubear, transformou a empresa dele em principal acionista da maior companhia elétrica do país. Uma jogada de oito bilhões de reais.No entanto, é possível que você só o conheça por ter montado um Real que era uma galáxia, e por fazer as contas do time ganharem tamanho astronômico.

Penso nas cifras dessa transação. E volto a lembrar da inocência das nossas carteiras de trabalho. Sigo desconfiado. Mas se tivesse um cofre cheio e pudesse comprar um único jogador da seleção brasileira, compraria o Kaká. Difícil seria encarar um craque da envergadura de Florentino Pérez na disputa.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Futebol de gente grande

I

Mirem-se no exemplo... dos meninos com a bola no pé. No futebol cercado de sorrisos. A verdade dos dias agora é outra. Crescemos e deixamos pra trás nossa leveza perdida nos campinhos de terra, em arenas humildes traçadas com pedaços de tijolo. Como éramos felizes em meio a todas aquelas linhas cravadas como tatuagens em chãos de cimento, de barro, de areia ou asfalto.

Linhas que só confinavam nossos dribles. A imaginação estava sempre muito além.

Agora não! Nosso descompromisso passou a ser uma quimera. Não somos mais capazes de debochar de uma derrota. Talvez porque a derrota tenha virado uma ameaça grande demais em outros campos. No imenso emaranhado do cotidiano, por exemplo.

Crescidos, nos tornamos menores. Ficamos sérios demais.

Já não permitimos que nos coloquem a bola entre as pernas, sem nos sentir um pouco violados.
O drible virou um insulto. O sarro adversário virou um insulto. É quase impossível apenas se divertir com o que antes era... a brincadeira.

Só a bola continua sendo a mesma. Sugerindo a lição sublime de quem carrega uma alma pura. Imutável. Nós, ao contrário, nos tornamos quadrados.


II


Esqueça.
Essa minha argumentação um tanto barata, antiga, é um esquema sem retranca, um jogo aberto que eu bolei pra deixar vocês cara cara com essa coisa sinistra que o futebol virou.

Outro dia cruzei as ruas ao redor de um estádio famoso da capital paulista e fiquei observando os torcedores que chegavam para o jogo. Vinham quase todos em bandos, como quem apela para uma receita primária a fim de se blindar de qualquer selvageria provável.

Atravessavam as ruas desafiando os carros. Fazendo cara de mau.

Pareciam se sentir um pouco super-hérois por baixo da camisa do time adorado. Insinuavam com seus gestos que ali estavam sujeitos destemidos o suficiente para encarar um estádio. Por que teriam medo do resto?

Fiquei pensando se houve mesmo um tempo em que podíamos alcançar os portões dos estádios de maneira um tanto despreocupada, ou se tudo não passava de uma fantasia para justificar alguns parágrafos

Naquele caldeirão comportamental vi um pouco de tudo, só não vi sorrisos. Tinham evaporado.

Muita gente pode se sentir ofendida com as minhas palavras. Mas é certo que as escrevo por reverência. O fato é que quase todo mundo abraça o futebol pensando mais no que ele foi e menos no que ele é.