Diz a lenda que o ano só começa quando o
carnaval acaba. Mas conhecendo bem este singular país não seria exagero dizer
que o ano começa mesmo é na primeira segunda depois da quarta-de-cinzas. Pois
você - como bom brasileiro - há de saber como é. Terminada a folia sobra só um
restinho de semana e aí quando a gente pensa em trabalhar dá de cara com a sexta
-feira e ninguém é de ferro.
Agora, vamos falar sério. Por mais que esta maneira
de pensar esteja arraigada no nosso imaginário ouso dizer que ela é um desrespeito com quem desde sempre não teve outra saída a não ser correr atrás
da bola, nesse caso em sentido figurado. E o time dos que jamais tiveram outra
saída é imenso. Quero crer, muito mais numeroso do que o time que espelha esse
modus vivendi, essa grandeza. Talvez só mais uma questão, entre tantas, que
acaba soando como verdade pela visão de mundo imposta por uma minoria.
Mas se
faço aqui essa abertura é pra dizer que o calendário atual do futebol brasileiro tem ao menos a virtude de colocar por terra isso tudo. O carnaval nem
bem acabou e já vimos o São Paulo vencer na Vila depois de um longo jejum. O
Corinthians vencer o Palmeiras em Itaquera com um a menos e com um gol solitário
daquele que talvez seja o mais contestado atacante do futebol
brasileiro. Vimos o Botafogo e o Atlético Paranaense enchendo suas torcidas de
orgulho, travando verdadeiras batalhas por um lugar na fase de grupos da
Libertadores. E que batalhas. Daria pra dizer, como se diz por aí, que gente
como o atacante Rodrigo Pimpão e o goleiro Gatito Fernandéz já ganharam o ano. O
primeiro ao marcar e o segundo ao evitar gols que deram outro horizonte ao
time carioca.
Até mesmo esse Mirassol que acaba de conhecer a primeira derrota
no Campeonato Paulista, mas que ainda ostenta a segunda melhor campanha do
torneio na frente de muita gente grande merece registro entre os acontecimentos deste ano que dizem alguns nem teria começado. E vai dizer pro Xuxa, artilheiro do
Mirassol e do Paulista, que o ano ainda vai começar, vai lá. Mas como nem só de
grandes feitos e feito um país. E pra que não digam que nosso futebol passou a
ser exemplo, tivemos aquela bagunça na semifinal do Campeonato Carioca, quando
quarenta e oito horas antes da partida a torcida ainda nem sabia se Vasco e
Flamengo iriam jogar e onde.
Cá entre nós, o futebol brasileiro tá longe de ser
exemplo. E toda essa pressa no fundo só o torna mais imperfeito do que já era.
Seja como for, não custa tentar, vamos copiar o calendário do velho futiba,
vamos mandar pro Congresso, pro Senado. Vamos fazer quem decide o rumo dessa nação entrar em
campo sem pré-temporada. Sem descansar as setenta e duas horas que prometem
colocar qualquer atleta em forma de novo. Quem sabe não chegaremos à conclusão
de que o sujeito que bolou esse nosso calendário atual na verdade é um gênio. E
se não virar, que valha a mais velha lei do futebol: não deu resultado a gente
troca.
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