Por mais que o futebol ande pobretão em termos
técnicos continua, e continuará, produzindo astros. Está na alam do negócio. Dizem que a mídia gosta de fabricar heróis e o futebol
jamais reclamou. Um jogador elevado às alturas turbina as cifras. E matar a
galinha dos ovos de ouro é coisa que não se faz. A mídia anda tão decisiva que o
bandeirinha insultado por Messi, o que levou o argentino a ser suspenso, confessou
que nem entendeu os insultos na hora e que só teve ideia do ocorrido quando viu
a repercussão. O mecanismo explica porque hoje em dia se cola tão fácil o rótulo
de craque em atletas que sequer engraxariam as chuteiras de um.
Os elegidos
estão aí e todos os conhecem muito bem. Não só pelo jeito de falar, mas pelas
namoradas, pela invejável multidão que alimentam via redes sociais. Mas
na semana passada um personagem de outra estatura midiática me chamou a
atenção. Na busca de uma pauta para tratar do jogo entre Palmeiras e Mirassol
eis que o jornalista, Emilio Botta, usou como gancho o reencontro do goleiro
Vagner, do time do interior paulista, com o time alviverde, equipe com a
qual ainda tem contrato até 2019. Vagner começou a interessar à grande imprensa
quando em 2014 foi um dos destaques do Ituano, que tiraria o título paulista do
Santos, graças a uma defesa feita por ele na disputa por penaltis.
Depois disso
foi procurado por times grandes mas acabou indo para o Avaí. Com o time
catarinense foi do céu ao inferno. Viveu a alegria da volta à primeira divisão e
na temporada seguinte a dor do descenso. O insucesso não lhe impediu o
progresso. Acabou contratado pelo Palmeiras. E quis o destino que uma lesão
afastasse o goleiro Fernando Prass dos granados e lhe alçasse à condição de
titular. Mas o que era pra ser o apogeu não durou mais do que três partidas. Sem
jogar bem viu o companheiro Jailson crescer- cair nas graças da imprensa
- e ficar com a oportunidade que parecia dele.
E foi simplicidade pra descrever o
que viveu que Vagner me assombrou. Tratou o insucesso de modo cru. Disse ter
sido um erro dele mais do que qualquer outra coisa. Não foi medo. Não era para
ser, avisou. Em seguida admitiu que o que lhe resta é correr atrás e se tiver
outra oportunidade fazer bons jogos. Quando o Avaí caiu, com lágrimas nos olhos,
o arqueiro fez questão de lembrar dos campos de treinamento cheios de lama e dos
salários atrasados. Lembrou ao repórter, ao ser questionado a respeito, que as
cotas de televisão quando chegam muitas vezes são usadas pra saldar dívidas
antigas, e que esperar melhorias nos gramados soava como fantasia. Afinal, se o
clube não tinha conseguido nem bancar salário em dia, seria ingenuidade esperar
melhorias no Centro de treinamento. E pra não deixar dúvida finalizou dizendo
que hoje em dia o futebol dos times pequenos está largado.
Digo pra vocês que vi ali uma
transparência que não tenho visto nas figuras que a mídia tem elegido nas
últimas semanas. Jogadores como o palmeirense Felipe Melo, como o são-paulino
Maicon. Figuras que, coincidentemente, entre uma declaração e outra - dessas que
a crônica gosta de explorar - fizeram questão de nos lembrar que o futebol anda
chato. Aliás, frase das mais ouvidas nos últimos tempos. Concordo com eles. Mas
se está chato não é por acaso.
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