Foto: Y.V. (EFE) |
Nossas moças estiveram em campo e bateram a China. Mas, teoricamente, a missão delas será bem mais espinhosa do que a que espera os rapazes, que estarão amanhã à tarde no gramado do Mané Garrincha. E faz tempo que toda vez que elas entram em campo me vem à cabeça uma música do Jorge Ben, cujo título é o que eu tomei a liberdade de usar para esta coluna. Virou uma espécie de mantra que eu entôo secretamente na ânsia de vê-las alcançar um triunfo ainda maior do que os já alcançados. Ou alguém aí dirá que ser vice-campeã mundial e duas vezes vice-campeã olímpica em um país onde o futebol feminino carece de existir de maneira digna é pouca coisa?
A história de
superação escrita pela nossa seleção feminina de futebol ao longo dos últimos
anos bastaria para justificar minha torcida. Mas há bem mais do que isso,
inclusive, o discurso preciso do técnico Vadão que em uma de suas últimas
declarações antes da estreia fez questão de deixar claro que com ele não cola
esse papo de que uma medalha de ouro irá salvar o futebol feminino. E foi além!
Vadão deixou no ar também uma incômoda - mas pra lá de pertinente - pergunta.
Disse o treinador das moças: Vamos admitir que a gente vença. No dia seguinte,
vai ter futebol feminino nas escolas? No dia seguinte, as prefeituras vão
decidir fazer uma escolinha de futebol feminino? O que nos falta é isso. O
incentivo social.
E eu diria que mesmo socialmente muitos são os detalhes que
nos desafiam. Semanas atrás virou notícia a reação que os pais de alguns
garotos teriam tido ao ver seus filhos perderem um título sub-13 para um time
formado por meninas. A proeza foi obra do time do Centro Olímpico de São Paulo
que teve autorização para inscrever na tradicional Copa Moleque Travesso um time
formado por sete garotas de quatorze anos. A diferença na idade tinha a intenção de equilibrar a
força física. Os sete participantes foram consultados e houve apenas uma
objeção.
A bola rolou, o time das garotas venceu a final por três a um e o que
se ouviu no entorno foi gente alegando que pesou o fato de as meninas serem um
ano mais velhas, que os meninos não entravam pra valer nas divididas com medo de
machucar as adversárias e por aí vai. Mas a coisa teria engrossado pra valer quando alguém
ousou dizer que futebol não era coisa pra meninas. E detalhe: a ideia de
inscrever as garotas no torneio foi motivada pelo simples fato de não existir
nenhum torneio que elas pudessem disputar. Vê se pode. Queria ver alguém dizer
pra Marta, pra Cristiane, pra Formiga que acaba de viver a rara emoção de entrar
em campo pra disputar a sexta olimpíada, que elas escolheram o esporte errado. E
é por elas que eu seguirei cantando baixinho esse refrão que pra mim anda fazendo mais
sentido do que nunca: eu vou torcer pela paz/ pela alegria, pelo amor/pelas
moças bonitas /eu vou torcer, eu vou.
Escute a música citada no texto - Eu vou torcer
Escute a música citada no texto - Eu vou torcer
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