A Olimpíada nos fez lidar com nossos fantasmas. E se você, como eu, andou um tanto assombrado antes da festa começar, não se deixe invadir por certa culpa. Não acho que seja caso de terapia. Temos bons motivos pra ficar preocupados diante da responsabilidade de receber gente em casa. Só os inconsequentes não ficariam. E se passou a chance de exigir o padrão FIFA, então, nos resta pedir desde já um padrão olímpico pro nosso estimado povo. Dói trazer com a gente a certeza de que voltaremos a ter do Rio de Janeiro as notícias de sempre. Aos que insistirem na tese de que a cidade depois dos jogos nunca mais será a mesma reservo, com um sorriso triste, a afirmação de que padecerá sendo a mesma, ainda que transformada.
Os que pairaram acima de
nós deixaram uma lição. A de que nem tudo se resume a suor e preparação. É só
passar os olhos na classificação geral e na lista de países com bom nível de
educação para dirimir qualquer possibilidade de coincidência. Mas antes que o
futebol volte a dominar as páginas dos cadernos de esportes deixo aqui meu encanto com a nossa
espécie. As conquistas podem ser iguais, os homens jamais. O homem é
cósmico, diverso. Capaz de se revelar pobre de espírito ou nobre. O que
explica como um craque como Neymar depois de se tornar o protagonista de uma
conquista tão esperada tenha despertado tanto descontentamento.
A Olimpíada
passou e, mais do que revelar campeões, nos revelou a soberba de Isinbayeva, a
falta de honestidade do nadador Ryan Lochte. Mas pra mim, brasileiro, não houve pompa, não houve nada, que tenha me orgulhado tanto quanto
a maneira simples e transparente do veterano Serginho, líbero da nossa seleção
de vôlei, se exibir em quadra. Diante de seus olhos marejados que iam marejando
os de todos que se aproximavam dele, não haveria nada que fosse capaz de fazê-lo
menor, nem mesmo a derrota que não lhe permitiria o ouro.
Vi em Serginho a nossa
maior representação e isso independeria do título. Foi ele, de coração exposto
ali no Maracanãzinho, o meu herói escolhido, que fez questão de dividir com a
arquibancada cada grande dose de alegria que lhe chegava. E se você, como eu,
não poupou críticas aos jogos, mantenha a cabeça erguida se for atingido
por argumentos empolgados que jamais levaram em conta os meios. Diante de um
Serginho nos dobraremos todos, mas não diante de um país de duzentos milhões
onde é dada a poucos essa possibilidade humana de se revelar imenso.
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