Sei que o momento é
complicado para afirmações desse tipo. O nobre leitor, imagino, deve andar
tocado pelo espírito olímpico. Mas eu aqui, meio com espírito de porco, quero
justamente tirar proveito do fato de estarmos mais sensíveis às reflexões sobre
o ato de torcer para dar uma cutucada na ferida. Torcer contra nossos atletas
olímpicos é tarefa moralmente questionável por motivos mais do que óbvios. Não
quero crer que alguém em sã consciência torceria contra uma Rafaela Silva, por
exemplo.
Mas quando se sabe que o nosso Comitê Olímpico privilegiou certas
modalidades com o intuito de dar uma turbinada nas nossas possibilidades de
medalhas para, desse modo, ficar mais perto da meta por ele estabelecida de
terminar os jogos entre os dez primeiros colocados no quadro de medalhas, o
sentimento pode vir a ser outro. Faz tempo que resultados servem de escudo para
dirigentes que teimam em deixar tudo como está, nas mãos de quem está. Pra ter
certeza disso basta olhar pro nosso futebol.
Não me julguem um louco. É claro
que tenho um time para o qual escolhi torcer, mas já me peguei várias vezes
rendido ao jogo do adversário tamanha era sua capacidade. Muitas vezes,
acreditem, comecei a ver uma partida torcendo para um time e acabei seduzido
pelo outro, convencido pela beleza de seu jogo. Mas isso faz tempo, foi quando o
futebol brasileiro ainda nos dava o prazer de ver surgir grandes esquadrões.
Coisa que não tem acontecido nos dias atuais nos quais o jogo de bola se vê
reduzido a uma pobreza técnica quase absoluta que nos obriga a torcer para o
menos ruim.
E se venho com esse papo agora é também porque faz tempo que vejo
muita gente por aí descer a lenha em tudo e em todos mas sem jamais admitir que
torce contra, nem que seja ou tenha sido por um instante, como quem tem uma
recaída. Pesa sobre os que torcem contra a sombra da discriminação. Mas aos que
torcem contra digo que sempre será legítimo acreditar que só uma derrocada
definitiva poderá ter força para mudar o futuro.
Temos que aceitar o que torce
contra onde for, ao lado da gente no sofá de casa, ou o sujeito que pinta lá no boteco decidido a gritar pelo outro time. Lógico que não falo daquele tipo
que defende posições para aparecer. O mundo é feito de prós e contras. E não
fosse o fato de eu ter percebido esta vocação por aí desde tempos longínquos
levantaria a suspeita de que como torcedores tínhamos sido infectados pela
intolerância que ora transborda do nosso jeito de encarar a política. Veja.
Torcer contra não tem nada a ver
com torcer com maus modos. Falo do ato em si. Torcer contra é um direito e ponto
final.
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