Se há uma virtude na Olimpíada é fazer o futebol perder parte de sua hegemonia. Os próximos dias prometem ser mais democráticos nesse sentido. Dias em que, certamente, o jogo de bola não reinará absoluto nos cadernos de esportes. Muito embora o ineditismo desse ouro que nos falta venha a lhe garantir uma força extra nessa queda de braço pelas manchetes. E, talvez, ainda mais nobre do que isso seja o fato de a Olimpíada jogar luz sobre histórias que o jornalismo esportivo costuma descartar em nome do apelo mercadológico do futebol.
Acho terrível que não
tenhamos conseguido dar aos nossos visitantes uma Baía de Guanabara mais digna,
mas o que considero terrível mesmo é o fato de termos chegado até aqui sem
ter ainda um plano nacional de esporte. E na ausência dele toda essa ladainha a
respeito de legado vira piada. E mesmo se tivéssemos conseguido dar uma limpada na
Baía de Guanabara teríamos escondido o sol com a peneira. Deixando assim os
visitantes terão uma imagem mais real do nosso país. Não dizem que é preciso se
distanciar um pouco das coisas pra enxergar melhor? Sabe-se lá, então, se os que
vêm de fora não serão capazes de nos dar uma interpretação melhor da realidade
brasileira.
Pois, se o nosso forte não é o esporte, também não é nossa educação e tampouco o saneamento básico. Nesse quesito, aliás, estamos atrás de países como a
Jamaica e o Equador. Em outras palavras, a milhas e milhas de conquistar
medalha. Gastar o que se gastou na Vila Olímpica e ter de mandar pra
lá seiscentos homens pra reparar às pressas algo novinho em folha não pode ser
algo normal. Mesmo que depois de ter colocado a boca no trombone os descontentes
tenham abrandado o discurso. O desafio é imenso e, sinto informá-los, não há
mais tempo de correr dessa. Mas quero crer que apesar de tudo o que fizeram em nome das intenções do Barão de
Coubertin - que era pedagogo - o esporte irá se impor, mostrará sua força. Ainda
que no segundo seguinte tenhamos de nos entregar novamente à superfície áspera
dos dias que nos cercam.
Tenho gostado do astral de Rogério Micale, o comandante
da nossa seleção olímpica de futebol masculino. E achei muito lúcido da parte
dele dizer que esses trinta e poucos bilhões que ora torramos com essa festa
monumental bem que poderiam ter sido mais bem utilizados. Oxalá essa nossa
condição de anfitriões faça que nossos meninos e meninas se deixem seduzir, não pelo que o esporte tem
de competitivo, mas que ao praticarem alguma modalidade incentivados pelo que
irão ver, descubram o que o esporte traz de benefício e prazer. Talvez a única
forma de acreditar que desse circo todo poderá brotar uma nação um tantinho mais
sadia.
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