Aaaaaaaaah! Coronel!, entrava na sala berrando o personagem Dirceu Borboleta, finamente interpretado por Emiliano Queiroz, na lendária novela " O bem-amado". Novela que honrava o gênero. Obra de veia crítica feroz. Não por acaso habita até hoje a memória de muita gente onde faz bailar um sem fim de personagens. As irmãs Cajazeiras, o temido Zeca Diabo. Dava pra gostar de todos. Mas existia algo em Dirceu Borboleta. Uma importância discreta. Era ele que trazia até o prefeito as notícias mais espinhosas. Em geral, acontecimentos que poderiam minar a vida pública do prefeito Odorico Paraguaçu, o coronel em questão.
Eis que na última sexta-feira o futebol brasileiro esteve representado
na eleição presidencial da FIFA pelo Coronel Antônio Nunes, o presidente
interino da CBF. Acompanhando de longe os acontecimentos fui levado às mais
antigas lembranças que trago comigo daquela obra-prima de Dias Gomes. Horas
antes do pleito pensava nos nossos homens ali envolvidos e encontrava nisso tudo
alguma semelhança, ainda que os papéis soassem invertidos. Pelo que ouvi em dado
momento o voto brasileiro, que estava empenhado com o candidato europeu, diante
das evidências do crescimento da candidatura do xeque Khalifa, passou a ser
perigoso. Onde já se viu num momento desses se abraçar a alguém que poderia
acabar derrotado?
Imaginei, então, que pra evitar o pior alguém poderia ter
saído em disparada por lá aos gritos atrás do coronel para avisá-lo que o
combinado estava descombinado e que, a partir dali, o voto brasileiro poderia
ser outro. Imaginei que diante do ar interrogativo do coronel, querendo entender
tudo o que se passava, alguém pudesse ter iniciado um discurso a la Odorico,
dizendo: Veja bem, Coronel. Dadas as implicâncias e suplicâncias desses nobres
que vem lá daquele lugar que eu nem sei dizer o nome direito chegamos à
conclusão que o melhor para o futebol brasileiro e mundial é esse tal Salman sei
lá o quê. E dando sequência à cena dos papéis invertidos, o sujeito que trouxe a
notícia voltaria a dizer como o coronel deveria proceder.
No final nada
disso foi preciso. Venceu mesmo o suíço Infantino, que escutou de nossas
autoridades o óbvio, que poderia contar com elas. E que Sucupira, ou melhor, o
Brasil estava preparado pra fazer o que fosse preciso. E aí o coronel, que já
não tinha se sentido muito confortável durante aquela discurseira toda, se
sentiu ainda mais desambientado quando, mais tarde, nas rodas de conversa, não
se falava em outra coisa que não fosse europeizar a FIFA. Fato é que dos tempos
do Bem-Amado pra cá muita coisa mudou. O que ninguém imaginou era que um dia
existiria quem desse ordem aos coronéis.
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