Sabe-se lá onde se escondem os mistérios
do futebol. Como já disseram há muitos entre o céu e a terra. Mas convenhamos,
há certa comodidade em atribuir tudo o que se passa entre nós a reinos
metafísicos. Outro dia ouvindo o meio-campista, Pablo Escobar, atrás vibrei quando
ele apontou o dedo na direção de algo bem terrestre para elucidar
acontecimentos. E notem que a declaração se deu logo após o time dele, o The
Strongest, ter alcançado o incrível feito de vencer uma partida fora de casa
depois de quase três décadas e meia. Logo, não seria de espantar se o entusiasmo
causado pelo triunfo o fizesse falar em forças sobrenaturais, ajuda divina,
esse tipo de coisa. Nada disso, amigos. Escobar foi pé no chão de tudo.
Apesar
de ter recorrido no primeiro momento a um tremendo clichê dizendo que já não há
time pequeno, no segundo seguinte corrigiu a rota e sentenciou: "... quando um
time põe um pouco de coração...". Pimba! Aí está pra mim uma explicação
magnífica porque sem arroubo algum. Uma interpretação que chega envolta na
simplicidade para driblar os desavisados. A questão dos times menores é
discutível por vários ângulos. Não existissem as diferenças de tamanho o futebol
sul-americano não teria gerado nos últimos dias manchetes incríveis como
aquela propiciada pelo encontro entre o Palmeiras - e seu elenco de quarenta
jogadores - e o River Plate. A citada manchete avisava que o time uruguaio gastava
por mês o que o alviverde imponente torrava em quinze horas. O próprio anúncio
da vitória fora do The Strongest mais de trinta anos depois de ter vencido pela
última vez nessa condição não deixa de evidenciar que existem abismos entre os
clubes, sim. Sem essa de que tá tudo muito igual. Esse pensamento é
reducionista.
Escobar esteve envolvido no gol que levou à vitória e foi
além, nos clareou as ideias. Colocar um pouco de coração no que está sendo
feito, tá aí o segredo. E se a memória não
me trai o jogador boliviano também citou a vontade. Outro detalhe que merece
reflexão. Já vi muita gente zombar de artilheiros que costumam creditar seus
gols a deus. A esses os cáusticos costumam responder dizendo que neste caso o
todo poderoso havia claramente tomado um partido, ou que os pedidos e preces
vindos do outro time não tinham sido tão intensos como os do adversário que
triunfou. Faz sentido. Mas com a vontade isso passa a ser factível. Vejam, não se trata de
falar que tudo ocorre, ou ocorreu, por falta de vontade, no caso, do
time são-paulino. Se trata é do que pode acontecer quando um time com vontade
cruza em campo com um quem tem mais vontade do que ele.
Aí já viu, né?
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