É isso! O futebol nos traiu.
Estamos nessa parecidos com aquele sujeito que se nega a ver o que a mulher anda
fazendo ou vice-versa. Os motivos que sustentam essa nossa cegueira
voluntária podem ser os mais variados. Talvez o principal seja não se imaginar
sem o objeto cultuado. Outra possibilidade é ter se habituado a um mínimo de
prazer. Pois, sejam sinceros, o futebol de agora não tem sido exatamente isso?
Um prazer mínimo? Se decidíssemos levar a indignação à cabo teríamos de arrumar
urgentemente algo pra ocupar o lugar dele. Mas não é fácil deixar tudo para
trás.
Não duvido que mais felizes serão os que diante dessa realidade tiverem
coragem de se libertar. Quase nada restou. Vejamos o caso da Libertadores, nosso
objeto de desejo. Paira sobre ela agora uma sombra escura. As gravações de papos
maquiavélicos entre o falecido argentino Júlio Grondona e Abel Gnecco,
um representante argentino da arbitragem da Conmebol, sugerem que aquela
trajetória gloriosa dos times argentinos no torneio pode ter sido construída de
maneira escusa.
Grondona, como lembraram os jornais, foi dirigente do
Independiente de 1962 a 1979. Justamente o período em que o Independiente
conquistou seis dos sete títulos que o transformaram no maior vencedor do
torneio. E quantos jornalistas esportivos não vi por aí encher a boca pra
lembrar que o Independiente era o tal na história da Libertadores. Que os argentinos isso, os argentinos aquilo. A Copa
América que vai chegando ao fim é outra prova. Nem vou citar os tais direitos de
transmissão negociados de maneira ilícita pra não ser repetitivo. Mas o que é
essa tabela de jogos com partidas decisivas sendo disputadas em horários
diferentes? Sinal claro de que apesar de tudo os cartolas continuam fazendo
questão de manter uma boa margem de manobra sobre o que ocorre em campo.
Não
vamos nos enganar mais. Fomos nos acostumando com a situação e não temos nem o direito de fazer cara de espanto. O que verdadeiramente causou espanto - e no
íntimo sabemos disso - é que a casa tenha caído. O novo mora no fato de que
alguém tenha sido capaz de colocar grandes cartolas do futebol mundial atrás das
grades. Só os que não eram íntimos do jogo tiveram direito a surpresa. E nós ?
Ora, nós tínhamos todos os indícios. Amantes que éramos. E talvez seja por isso
que não suportamos os erros dos árbitros. Com o peso de uma possível traição
sobre nossas cabeças custamos a acreditar que se
trate apenas da imperfeição humana. Revela-se, então, em cada mancada um motivo
para imaginarmos uma trama. É, é sempre um desafio salvar uma relação que já não prima pela confiança.
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