sexta-feira, 3 de julho de 2015

Fomos traídos ! (ou, o futebol como matrimônio)

É isso! O futebol nos traiu. Estamos nessa parecidos com aquele sujeito que se nega a ver o que a mulher anda fazendo ou vice-versa. Os motivos que sustentam essa nossa cegueira voluntária podem ser os mais variados. Talvez o principal seja não se imaginar sem o objeto cultuado. Outra possibilidade é ter se habituado a um mínimo de prazer. Pois, sejam sinceros, o futebol de agora não tem sido exatamente isso? Um prazer mínimo? Se decidíssemos levar a indignação à cabo teríamos de arrumar urgentemente algo pra ocupar o lugar dele. Mas não é fácil deixar tudo para trás. 

Não duvido que mais felizes serão os que diante dessa realidade tiverem coragem de se libertar. Quase nada restou. Vejamos o caso da Libertadores, nosso objeto de desejo. Paira sobre ela agora uma sombra escura. As gravações de papos maquiavélicos entre o falecido argentino Júlio Grondona e Abel Gnecco, um representante argentino da arbitragem da Conmebol, sugerem que aquela trajetória gloriosa dos times argentinos no torneio pode ter sido construída de maneira escusa.

Grondona, como lembraram os jornais, foi dirigente do Independiente de 1962 a 1979. Justamente o período em que o Independiente conquistou seis dos sete títulos que o transformaram no maior vencedor do torneio. E quantos jornalistas esportivos não vi por aí encher a boca pra lembrar que o Independiente era o tal na história da Libertadores. Que os argentinos isso, os argentinos aquilo. A Copa América que vai chegando ao fim é outra prova. Nem vou citar os tais direitos de transmissão negociados de maneira ilícita pra não ser repetitivo. Mas o que é essa tabela de jogos com partidas decisivas sendo disputadas em horários diferentes? Sinal claro de que apesar de tudo os cartolas continuam fazendo questão de manter uma boa margem de manobra sobre o que ocorre em campo. 

Não vamos nos enganar mais. Fomos nos acostumando com a situação e não temos nem o direito de fazer cara de espanto. O que verdadeiramente causou espanto - e no íntimo sabemos disso - é que a casa tenha caído. O novo mora no fato de que alguém tenha sido capaz de colocar grandes cartolas do futebol mundial atrás das grades. Só os que não eram íntimos do jogo tiveram direito a surpresa. E nós ? Ora, nós tínhamos todos os indícios. Amantes que éramos. E talvez seja por isso que não suportamos os erros dos árbitros. Com o peso de uma possível traição sobre nossas cabeças custamos a acreditar que se trate apenas da imperfeição humana. Revela-se, então, em cada mancada um motivo para imaginarmos uma trama. É, é sempre um desafio salvar uma relação que já não prima pela confiança.
 

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