Há um trecho muito bonito no "Livro do desassossego", escrito por Fernando
Pessoa, que desafia o leitor a notar que talvez haja mais beleza na derrota do
que na vitória. Aliás, fica aqui a dica porque dias atrás um amigo me disse que
está pra ser lançada uma edição ainda mais completa dessa obra. Lembro bem que
quando li o tal texto pela primeira vez fiz questão de mostrá-lo logo ao Doutor
Sócrates, que em muitos dos nossos encontros madrugada adentro defendia a teoria
de que a derrota da seleção de 82 a fez maior do que uma vitória faria. E eu
gostava muito de ver o Magrão falar daquilo, principalmente, por ser um ponto de
vista que driblava, com classe, o óbvio. Verdade também, portanto, que o Magrão,
antes do poeta português, foi o primeiro a me apontar que de algum modo vencer é
estar vencido. E que há um desconforto reservado somente aos derrotados que
obriga o homem a manter em si, intacta, a gana de ir além.
Todas essas
lembranças me vieram quando eu estava pensando no tão falado insucesso de Messi
com a camisa da seleção argentina. Dizem, inclusive, que depois do terceiro
vice-campeonato seguido ele tem pensado em renunciar à seleção por um tempo. É
lógico, o pensamento tirado do livro de Pessoa não parece fazer o mínimo sentido
nesse caso. Mas mesmo diante de uma constatação como essa ouso defender - com
todas as letras - que a ausência de um triunfo dessa natureza em nada lhe
diminui. Estou longe de aceitar a pobreza dos que tecem suas teorias a partir de
um placar.
Reconheço nesse argentino de porte físico modesto um gigante. Ou não
tem sido Lionel Messi nos últimos tempos o maioral na arte de nos encantar ? Mal
lhe ouvimos a voz. Ao contrário de outros, Messi dá
a impressão de não estar nem aí para o que mostram os telões. Basta a ele ter a
bola nos pés, que desse encontro faz nascer, esbanjando precisão, uma maneira
ímpar de se expressar. Por isso, na final contra o Chile cheguei a ver mais
futebol e atitude no conjunto de jogadas mal sucedidas tentadas por ele do que
em todo o resto. Talvez seja um exagero, claro. E no fim, me entristeci com seu
ar desolado diante da cobrança de penalti desastrada de Higuaín que anunciava
mais um insucesso dele com a camisa argentina. Insucesso? Aí eu pensei comigo:
chega a ser cruel exigir um resultado de alguém que nos últimos anos, mais do
que qualquer outro craque, se encarregou de manter viva a magia do
futebol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário