Já fiz aqui neste espaço as minhas elegias
ao futebol praticado por meninos. Quando falo meninos digo desses que andam pela
casa dos vinte e cujo futebol nos deixa a impressão de que ainda é possível
sonhar com o triunfo do instinto sobre a competitividade. Mas acontece que faz
tempo que o talento da meninada anda salvando a cabeça de muito dirigente. Se eles quando são
lançados - um tanto na fogueira - dão conta do recado, do que não seriam
capazes se tivessem direito a um début, digamos, mais digno e planejado?
Não
descarto a hipótese de que esse clima de tudo ou nada a que são expostos
acaba por forçar e acelerar o amadurecimento deles. Fato é que talveznão seja uma maneira justa de tratar o
talento. Como sempre no futebol, quando as coisas dão certo ficam sempre com um
jeitão de passeio pelo céu, um flerte com o paraíso. E o discurso que os
enaltece fica parecendo um tanto oportunista. Digo isso porque o potencial das
novas gerações jamais parece ter encontrado um cartola capaz de confiar
plenamente nos diamantes brutos que lhes vêm às mãos.
Há sempre um atleta rodado
na mira que, fatalmente, abocanhará uma considerável fatia da receita do clube.
E em troca disso, se supõe, servirá de referência para a molecada. Não me
entendam mal. Já não tinha nada contra a contratação de um Robinho. O que me
move aqui é até onde vai a confiança que os cartolas depositam na molecada. Até
porque não se verá por aí, em canto algum, um time formado só por garotos. E não
estou sugerindo correr esse risco.
No entanto, também é fato que sempre haverá
em um elenco profissional gente com experiência suficiente para apontar caminhos
e orientar. Mas a impressão que fica pelo que temos visto é que os dirigentes
acham que só alguém que ganhou o status de estrela seria capaz de ministrar
aulas sobre tal matéria. Já disse em outro momento, e volto a dizer, sou
totalmente a favor da molecada, mas não acho salutar apontá-los como solução.
A
molecada não deve ser vista como um antídoto à falta de maiores esperanças que
fatalmente se abate sobre times em que o planejamento esteve longe de ser
perfeito. Se há uma virtude capaz de envaidecer a torcida de uma agremiação é a
capacidade de não deixar a peteca cair. O futebol tem altos e baixos, todos
sabemos disso, mas quando um time em duas temporadas deixa de ocupar o posto de
candidato a conquistar qualquer título que dispute e condena a sua torcida a
conviver com um certo temor do rebaixamento é porque alguma coisa realmente saiu
errado. E aí, decidir chamar a molecada pra resolver não é coisa que se
faça.
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