Adianto que a resposta para a questão que o texto abaixo traz é um sonoro NÃO.
Até agora nenhum clube se habilitou a cuidar da parte psicológica dos seus atletas. Andrea Seabra, a autora do projeto "Três tempos", cujas preocupações seram listadas abaixo faz questão de parar a conversa na hora, caso o interlocutor faça alguma menção de que os clubes já usam a psicologia. "Não desse modo", dirá Andrea de maneira decidida.
A realidade mostra que se os garotos que sonham viver do futebol estão longe de
encontrar o amparo ideal, imaginem aqueles que já descobriram todas as dores e delícias do mundo da bola e, por uma questão meramente temporal, já deram ou estão prestes a dar adeus a ele.
encontrar o amparo ideal, imaginem aqueles que já descobriram todas as dores e delícias do mundo da bola e, por uma questão meramente temporal, já deram ou estão prestes a dar adeus a ele.
3 Tempos
Não foi sem orgulho que ouvi, vi e li,
inclusive neste blog¹,
declarações de apoio dos jogadores de futebol da seleção brasileira e, depois,
de outros jogadores, às manifestações que tomaram as ruas de muitas cidades
brasileiras.Algumas palavras repetidas
chamam a atenção, referências à infância humilde e às dificuldades de acesso a
educação e saúde de qualidade. E daí, para lembrar que o futebol ainda é no
Brasil uma espécie de alavanca social e econômica para muitos jovens, foi só um
pequeno passo. E perceber o que se exige deles, outro passo
mais.
A adolescência é um fenômeno psicológico e
social. O adolescente tem a necessidade de ter destaque, agradar ao olhar do
outro é importante, dá a ele a sensação de existir. O final de adolescência e início da fase adulta já é
um enorme desafio, que só se agiganta neste ambiente tão competitivo do futebol.
Diante do porvir ainda incerto, o adolescente se depara com sua condição de
existência, lançando mão de fantasias e comportamentos impulsivos. As
expectativas da família destes jovens podem agravar ainda mais a pressão sobre
eles. Quem deve cuidar desse futuro atleta?
Como lidar com uma súbita posição de
reconhecimento nacional, aparecendo na mídia de modo intenso, recebendo convites
de toda ordem? Como administrar um ganho monetário nunca antes possível, sem se
perder? Como entender a fugacidade desta aparição e prestígio? Lidar com fama e
glória é muito difícil. A imprensa
veicula, com certa frequência, notícias de jogadores promissores que, por
desequilíbrios emocionais, diminuíram seu desempenho diante da pressão. Uma
pesquisa recente realizada pelo UOL Esporte²revela
que uma elevada porcentagem dos jogadores admite ter problemas decorrentes de
ilusão de sucesso, arrogância, vida em baladas, violência, drogas, bebidas
alcoólicas, etc.
Em um artigo³,
Tostão faz um comentário bastante consistente: “A sociedade do espetáculo
idolatra, consome e descarta rapidamente seus ídolos. A impaciência com Neymar
já começou. Querem que ele dê show em todas as partidas.” Essa é uma tarefa
cruel muito difícil de elaborar emocionalmente. Orientar jovens se faz fundamental nessa nova
condição, para que tenham melhor critério na seleção do que vem ao seu encontro:
drogas, relacionamentos sociais e amorosos perigosos, consumo desmedido de
artigos de luxo − e assim sair das situações de deslumbramento e
risco.
Jogadores numa fase descendente de seu
percurso profissional, assim como jogadores repatriados, também necessitam de
orientação.A readaptação a novos desafios pode ser um momento
bastante custoso e atribulado. Por meio
do apoio especializado os atletas terão mais capacidade de administrar
corretamente sua vida privada e profissional. Desta forma, protege-se também os
próprios clubes, que terão uma maior garantia e segurança de retorno do
investimento que fizeram. Se seus jogadores estiverem psicologicamente bem,
emocionalmente estabilizados, a probabilidade de uma boa atuação aumenta
significativamente.
Os patrocinadores, por seu lado, poderão
usufruir de maiores chances de associação de suas marcas a bons atletas em todos
os sentidos. De quebra, todos ainda farão bonito, pois para clubes e
patrocinadores é uma oportunidade de se apresentarem como corporações que têm
responsabilidade social e se preocupam com esses aspectos humanitários ajudando
seus atletas, mesmo depois de deixaram de ser estrelas do time.
Iniciativas de olhar individualmente para
esses atletas começam a surgir. Algum clube se habilita?
Andrea M. P. Seabra, idealizadora do
"Projeto 3 Tempos" que oferece apoio individual para jovens atletas é psicóloga,
formada pela PUC-SP, com mais de 25 anos de experiência clínica realizada em
hospitais, clínicas psiquiátricas, projetos corporativos e clínica particular.
email: se.abra@uol.com.br
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