sexta-feira, 12 de julho de 2013

O "Três tempos"


Adianto que a resposta para a questão que o texto abaixo traz é um sonoro NÃO.
Até agora nenhum clube se habilitou a cuidar da parte psicológica dos seus atletas. Andrea Seabra, a autora do projeto "Três tempos", cujas preocupações seram listadas abaixo faz questão de parar a conversa na hora, caso o interlocutor faça alguma menção de que os clubes já usam a psicologia. "Não desse modo", dirá Andrea de maneira decidida.



A realidade mostra que se os garotos que sonham viver do futebol estão longe de
encontrar o amparo ideal, imaginem aqueles que já descobriram todas as dores e delícias do mundo da bola e, por uma questão meramente temporal, já deram ou estão prestes a dar adeus a ele.

 
 


3 Tempos
 
Não foi sem orgulho que ouvi, vi e li, inclusive neste blog¹, declarações de apoio dos jogadores de futebol da seleção brasileira e, depois, de outros jogadores, às manifestações que tomaram as ruas de muitas cidades brasileiras.Algumas palavras repetidas chamam a atenção, referências à infância humilde e às dificuldades de acesso a educação e saúde de qualidade. E daí, para lembrar que o futebol ainda é no Brasil uma espécie de alavanca social e econômica para muitos jovens, foi só um pequeno passo. E perceber o que se exige deles, outro passo mais.

A adolescência é um fenômeno psicológico e social. O adolescente tem a necessidade de ter destaque, agradar ao olhar do outro é importante, dá a ele a sensação de existir. O final de adolescência e início da fase adulta já é um enorme desafio, que só se agiganta neste ambiente tão competitivo do futebol. Diante do porvir ainda incerto, o adolescente se depara com sua condição de existência, lançando mão de fantasias e comportamentos impulsivos. As expectativas da família destes jovens podem agravar ainda mais a pressão sobre eles. Quem deve cuidar desse futuro atleta?

Como lidar com uma súbita posição de reconhecimento nacional, aparecendo na mídia de modo intenso, recebendo convites de toda ordem? Como administrar um ganho monetário nunca antes possível, sem se perder? Como entender a fugacidade desta aparição e prestígio? Lidar com fama e glória é muito difícil. A imprensa veicula, com certa frequência, notícias de jogadores promissores que, por desequilíbrios emocionais, diminuíram seu desempenho diante da pressão. Uma pesquisa recente realizada pelo UOL Esporte²revela que uma elevada porcentagem dos jogadores admite ter problemas decorrentes de ilusão de sucesso, arrogância, vida em baladas, violência, drogas, bebidas alcoólicas, etc.

Em um artigo³, Tostão faz um comentário bastante consistente: “A sociedade do espetáculo idolatra, consome e descarta rapidamente seus ídolos. A impaciência com Neymar já começou. Querem que ele dê show em todas as partidas.” Essa é uma tarefa cruel muito difícil de elaborar emocionalmente. Orientar jovens se faz fundamental nessa nova condição, para que tenham melhor critério na seleção do que vem ao seu encontro: drogas, relacionamentos sociais e amorosos perigosos, consumo desmedido de artigos de luxo − e assim sair das situações de deslumbramento e risco.

Jogadores numa fase descendente de seu percurso profissional, assim como jogadores repatriados, também necessitam de orientação.A readaptação a novos desafios pode ser um momento bastante custoso e atribulado. Por meio do apoio especializado os atletas terão mais capacidade de administrar corretamente sua vida privada e profissional. Desta forma, protege-se também os próprios clubes, que terão uma maior garantia e segurança de retorno do investimento que fizeram. Se seus jogadores estiverem psicologicamente bem, emocionalmente estabilizados, a probabilidade de uma boa atuação aumenta significativamente.

Os patrocinadores, por seu lado, poderão usufruir de maiores chances de associação de suas marcas a bons atletas em todos os sentidos. De quebra, todos ainda farão bonito, pois para clubes e patrocinadores é uma oportunidade de se apresentarem como corporações que têm responsabilidade social e se preocupam com esses aspectos humanitários ajudando seus atletas, mesmo depois de deixaram de ser estrelas do time.
Iniciativas de olhar individualmente para esses atletas começam a surgir. Algum clube se habilita?

Andrea M. P. Seabra, idealizadora do "Projeto 3 Tempos" que oferece apoio individual para jovens atletas é psicóloga, formada pela PUC-SP, com mais de 25 anos de experiência clínica realizada em hospitais, clínicas psiquiátricas, projetos corporativos e clínica particular. email: se.abra@uol.com.br 










 





 







 

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