Nunca esqueci a declaração que ouvi certa vez da boca de um renomado técnico de
atletismo cujo nome irei omitir aqui por razões óbvias. Naquele dia, encerrada a
gravação de uma longa entrevista continuamos conversando e o papo foi parar na
questão do doping. Categórico, ele sentenciou: "Não existe ninguém totalmente
limpo nesse nível". Quando falava em "nível" queria dizer os atletas que ao
redor do mundo eram conhecidos como os de ponta.
Não que tenha me causado muita
surpresa ouvir aquilo, mas lembro de ter ficado alguns instantes sem saber ao
certo o que pensar. Brotou um silêncio. Afinal, a declaração trazia consigo o
impacto de um ponto final. Isso aconteceu há quase vinte anos e eu duvido que de
lá pra cá o atletismo tenha se tornado mais limpo, ainda que os testes tenham
evoluído muito.
Por isso, não foram poucas as vezes em que eu, embasbacado com a
velocidade do jamaicano, Usain Bolt, atual recordista mundial dos 100 metros e
bicampeão olímpico, me peguei pensando como será triste se um dia isso tudo
acabar manchado por um doping. Bolt segue sendo um mito e afirma que está
limpo. Mas esta semana dois grandes nomes que seduziram o mundo correndo a nobre
prova dos cem metros foram flagrados por exames. O americano Tyson Gay, dono da
melhor marca do ano, e o jamaicano, Asafa Powell, ex-recordista mundial e
campeão olímpico.
Não é preciso ser um observador apurado para notar que na
engrenagem do esporte de alto rendimento o corpo acabou virando um meio. E tem
sido tratado de acordo com a necessidade que se revela. Basta ver o
desenvolvimento físico dos jogadores de futebol. E não é apenas na transformação
de meninos franzinos em atletas musculosos que o futebol mostra seu lado
físico-laboratorial.
Um estudo recente da FIFA com as seleções que participaram
da Copa do África do Sul mostrou que mais de setenta por cento dos jogadores se
medicaram no mês do mundial. E que quase quarenta por cento deles, com dores,
tomaram analgésicos antes de entrar em campo. Houve o caso de uma seleção em que
dos vinte e três convocados vinte e um tinham feito uso desse tipo de
medicamento.
Números que deixam claro, também, o preço de um mundial disputado
em fim de temporada. No lugar do descanso ideal entram os anti-inflamatórios. E
tão alarmante quanto esses números foi o fato de os jogadores sul-americanos
terem tomado quase o dobro dos medicamentos dos atletas de outros continentes.
Mesmo se tratando de substâncias permitidas pela Agência Mundial Antidoping fica
fácil concluir ao que pode levar toda essa pressão a que estão submetidos
atualmente os atletas e os médicos pagos para cuidar deles.
quarta-feira, 17 de julho de 2013
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