A frase "Vocês vão te que me engolir", de tão impactante, entrou para a história. Poderia ter se perdido como tantas outras. Mas como teve a capacidade de concisão de poucas, perambula por aí até hoje. Vira e mexe vem à tona.
Quando Zagallo, em 1997, depois de vencer a Copa América avisou, com as veias estufadas, que os seus críticos teriam que lhe engolir, tirou um nó da própria garganta, e tratou de tocar a vida. Ora, se nem mesmo o velho Lobo, tão calejado pelo futebol, foi capaz de suportar as críticas sem perder a calma, por que achar que Dunga seria?
Acredito que a essa hora, vendo o filme dos últimos dias passar pela memória, o atual técnico da seleção deva estar desfrutando de uma sensação muito parecida com aquela vivida por Zagallo após o inesquecível desabafo.
Ou seja, depois de engolir o ex-treinador, pelo visto estamos digerindo o atual.
Com a fibra de sempre, Dunga não amoleceu, nem mesmo quando esteve enfiado num banho-maria dos bons, que de tão quente parecia fritura. Escolado que é, talvez não se deixe levar pela exaltação das tantas qualidades descobertas nele com a ajuda das lentes da vitória.
Mais importante do que isso é não acreditar nessa coisa de ter nas mãos um time quase pronto. Em setembro, se cair diante da Argentina, numa noite infeliz (e põe infeliz nisso) tudo poderá mudar. É o que basta para o discurso, no geral, voltar a ser o de quem teve o paladar contrariado.
Meus amigos, o que é um time pronto?
Diziam que a nossa seleção da Copa de 2006 era. Vejam como acabou! Um time só está pronto até o momento em que um detalhe qualquer compromete o bom andamento do conjunto. Ou menos ainda, até o dia em que um dos seus zagueiros levanta com o pé esquerdo. Não se deixe enganar.
Quando tivemos um time pronto?
Em 58, quando começamos a jogar sem Pelé? Em 70, quando tínhamos mais craques do que posições para serem distribuídas? Em 2002, quando Gilberto Silva ganhou uma chance depois da contusão de Emerson, e Kleberson - que jogou muito - só virou titular quase na metade da Copa? Ah! O time de 82! Bom, parecia aos olhos de todos uma obra de arte bem acabada, é verdade, mas...
Dunga sabe de cor todas as armadilhas do futebol e, por isso, deveria encará-las com um pouco mais de bom humor, e perceber que a acidez é uma das tantas características da crônica esportiva, e que para enfrentá-la não é preciso sorrisos demais, nem de menos.
Por favor, sem essa de time pronto, semi-pronto, ou sei lá o quê.
Acreditar num time pronto é fazer pouco de todas as reviravoltas que o deus do futebol faz questão de decretar, mais cedo, ou mais tarde, tanto faz. Um time verdadeiramente pronto, roubaria, sorrateiramente, a graça do jogo. Está, portanto, em condição de eterno impedimento por ordens superiores.
E tem mais, nesse universo da bola, uns poucos movimentos separam o ato de engolir, do ato de ser engolido. E não há craque ou retranca capaz de vencer essa verdade
quinta-feira, 2 de julho de 2009
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