quinta-feira, 23 de julho de 2009

Chegadas e partidas

Há muitas maneiras de encarar um retorno. Voltamos ao lugar de onde um dia partimos por vários motivos. Por chegar à conclusão de que não deveríamos ter saído de lá. Por sentir uma saudade terrível nos tomar a alma, ou até mesmo por concluir que não havia outro lugar para ir.

Mas razões poéticas - desculpem a dose letal de realidade - não servem para explicar o vai e vem que acomete o futebol nacional. Aquele ensinamento que sugere jamais voltar a um lugar em que fomos felizes também parece deslocado, afinal, nada mais transitório no jogo de bola do que a felicidade.

Seja como for, Luxemburgo começou a escrever sua quarta passagem pelo time da Vila Belmiro, e eu fiquei pensando o que teria sido decisivo para que ele aceitasse voltar, já que o salário anunciado é muito menor do que ele estava acostumado a receber. Em 2007, depois de ser campeão paulista e vice brasileiro, deixou de lado a chance de, uma vez mais, disputar o torneio continental. Foi embora.

Uma das matérias geradas pela partida do treinador - a terceira delas - versava sobre os motivos da saída, muito comentados à época. Luxemburgo queria um time forte para 2008. Marcelo Teixeira não tinha caixa para os planos do técnico. O ano seguinte custou a passar. Teve momentos amargos. Ameaça de rebaixamento. E aquele Santos de chegada, que gerou muitos dividendos, foi ficando para trás.

Nesta temporada as duas partidas contra o Palmeiras na semifinal do Paulista representaram o supra-sumo do que o time tinha a oferecer. Nos dias atuais, o décimo terceiro lugar em que o time se viu no início da semana é parte ínfima do desafio que aguarda Luxemburgo na sua volta. Não se pode dizer que o Santos hoje seja o sonho de consumo dos grandes estrategistas do nosso futebol. Há muito a fazer.

Mas nessa seara ludopédica a obsessão é sempre uma só. Se não para os que comandam, para os que torcem. Triunfar é o verbo primeiro. Só que para voltar a um lugar onde já esteve - sempre com brilho distinto - o time santista precisa mais de um técnico, e menos de um parceiro. Precisa mais de futebol e menos de negócios. Precisa se manter soberano em suas decisões. Precisa provar a capacidade de sua administração e estrutura. Precisa virar o jogo. Precisa ser um lugar onde todas as pessoas que voltem saibam que serão lembradas menos pelo que representam e mais pela herança que irão deixar.

E como o título acima me fez lembrar da música "Encontros e despedidas", de Milton Nascimento e Fernando Brant, aproveito pra deixar aqui uns versos da canção: Melhor ainda é poder voltar quando quero.../É a vida desse meu lugar/É a vida.


* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

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