Faz tempo que o calendário se impôs como um grande tema do futebol brasileiro. Mas é bom não confundir as coisas. Nem por isso se fez popular. Talvez devido a complexidade que o cerca. Não lembro de vê-lo pintar na área em resenhas entre amigos ou algo do tipo. E isso não quer dizer que o jornalismo esportivo erra ao focar nele. Mas se trata de uma equação sem solução na minha opinião. A menos que os que cuidam do futebol resolvam cortar a própria carne, já que a única medida eficaz seria aliviá-lo, enxugar torneios ou extingui-los. E não é de hoje que toda vez que essa conversa se dá a mira fica nos campeonatos estaduais, que ao longo do tempo já sofreram transformações mas nunca na medida que solucionaria o problema.
Tanto é assim que a CBF acaba de anunciar mudanças para a temporada de 2025. Em linhas gerais os Estaduais serão antecipados e, por tabela, o Brasileirão também. Iniciará em março. Todo esse movimento tem por trás a necessidade de lidar com o novo formato do Mundial de Clubes da FIFA que na temporada que vem será disputado entre 15 de junho e 13 de julho. Ou seja, consumirá um mês. Quatro times brasileiros estarão lá. Palmeiras, Flamengo, Fluminense e o campeão da Libertadores deste ano. A CBF faz contorcionismo para que o Mundial não tenha efeitos colaterais no futebol brasileiro. Por efeitos colaterais entenda-se um choque total com nosso futebol. Os times brasileiros envolvidos com ele teriam de jogar nas janelas internacionais, reservadas aos jogos de Eliminatórias , por exemplo. E certamente o fariam seriamente desfalcados.
Mas note-se que se trata só de antecipação, diminuição de datas, nunca! Não digo desde que começou a ser jogado, mas desde que o futebol passou a ser sinônimo de grandes lucros foi condenado à expansão para saciar o mercado. Cria-se o que eles chamam de outras entregas. Aumenta-se o número de jogos e cria-se assim um facilitador para a hora de negociar contratos. Ainda não inventaram jeito mais eficaz de turbinar os valores do que dizer que se passará a oferecer mais do que o cliente já tem. O que torna muito justo o descontentamento e as ameaças de greve feitas por certos astros do futebol europeu, que deveriam passar a pensar em fazer contratos que estipulassem um teto de partidas disputadas. Mas isso é um devaneio meu.
Foi esse mecanismo que transformou o novo formato da Liga dos Campeões em algo esdrúxulo. A maneira antiga com os times divididos em grupos e com alguns disputando um play off com as equipes oriundas da competição que está um nível abaixo, ainda que tenha sido manipulada, soava perfeita. Mas muda-se a forma, e com ela a dinâmica do campeonato também. Ver o Real Madrid ocupar o décimo sétimo lugar de uma tabela elucida bem o que esse tipo de transformação provoca. E isso não quer dizer que ele não venha a ser novamente campeão. Acompanhar uma competição de trinta e seis participantes na qual vinte e quatro deles terminarão a fase classificados, ainda que em situações um tanto distintas, não é algo estimulante. E como copiamos tudo que vem de lá - e desse modo a Conmebol poderia turbinar suas entregas - é só uma questão de tempo para que a Libertadores venha a ter esse formato também. É por isso que eu digo: podemos discutir o calendário, mas o calendário é inocente.