Só se fala de Neymar. Mas falar de Neymar neste momento não é algo simples. Exige cuidado se a gente não quiser ser injusto, leviano. E se não quiser, claro, simplesmente abraçar o clima de oba-oba. Entendo a empolgação do torcedor como entendo também aquele que ainda não está totalmente convencido de que essa volta não é o sonho que se pinta. As dúvidas poderiam muito bem ser embasadas com perguntas simples. Até quando? A que custo? E quando se diz custo pode não significar exatamente dinheiro. E não soa descabido imaginar ainda que o torcedor mais ressabiado poderá se perguntar também: com que comportamento?
Só os mal intencionados, ou mal informados, negariam o papel de Neymar no futebol brasileiro. Há bem mais de uma década ele se fez seu principal nome em atividade. Vinicius Júnior que me desculpe. E eu sei que muita gente ao ler "em atividade" poderá aproveitar a deixa para esboçar um risinho irônico. A crônica esportiva tem se encarregado de mostrar os números do jogador em sua passagem pela Al Hilal. E eles são realmente de minar empolgações e enfraquecer argumentos no sentido contrário. Mas correto é analisar o todo. E ao analisar o todo não só colocamos Neymar no lugar em que ele merece estar como tornamos evidente o papel que as lesões tiveram na carreira dele.
E aí não há o que dizer. Só um atleta sabe o tamanho da dor, do desafio que elas representam e o quanto limitam a capacidade de competir. Até já ouvi jogadores muito experientes dizerem que o estilo de jogo de Neymar acaba por lhe expor a esse grau de contato. Se tivesse outra leitura de quando estar e não estar com a bola sofreria menos. Mas como sugerir a um atleta como ele a maneira de jogar seria a mais absoluta prepotência, deixo esse tipo de reflexão para quem tem patente para tal. Agora se cito isso é porque ao longo do tempo muitas vezes critiquei Neymar por reter demais a bola, por querer resolver o jogo sozinho, como se diz.
Acontece que faz tempo que ele passou a ser a referência. Normal que o time queira jogar para ele. Que ele queira resolver a partida. Cabe ao treinador impor esse equilíbrio. Mas, tendo em vista o contexto, esse aceitar o embate com os adversários também pode ser visto como uma prova de que Neymar nunca se escondeu, sempre exerceu o papel que sua envergadura pedia. De qualquer forma a história parece ter jogado a favor do Santos. Prefiro enxergar a coisa mais por esse vértice, do que enveredar por um discurso que recorra a um certo sentimentalismo para explicar o que está se dando. Que as partes têm uma forte ligação sentimental é óbvio. Mas se o mercado da bola estivesse sorrindo para Neymar o caminho seria traçado, creio, de um jeito bem diferente. O que não significa dizer que se não viesse para o Santos não teria onde jogar, por favor. Neymar se fez o jogador mais caro do mundo, um fenômeno nas redes digitais que tanto amplificam celebridades. Mas no campo, esse lugar tão sagrado, o apogeu de alguma forma parece lhe escapar. Seja como for, o raio voltou a cair na Vila Belmiro ainda que dessa vez conduzido não pela natureza, mas pelas loucas tramas do destino.
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