sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Você já foi à Vila?



Não sei se o caro leitor sabe, ou se recorda, que Dorival Caymmi em uma das tantas músicas que fez para cantar seu amor pela Bahia tomou a liberdade de perguntar e, em seguida afirmar: Você já foi à Bahia? Não! Então vá. Pois diante do momento que se aproxima acho que um questionamento semelhante se faz apropriado. Afinal: Você já foi à Vila Belmiro? Não! então vá! É difícil acreditar que alguém que more por perto - ou vez ou outra passe por ali - tenha resistido à tentação, e que se não tiver ido por amor, não tenha ido por pura curiosidade. 

Vá á Vila! Mesmo que não seja santista, mesmo que tenha um certo receio do que costuma rolar no entorno dos nossos estádios, vá mesmo que não goste de futebol. Vá porque a Vila Belmiro - que será merecidamente cortejada nos próximos dias quando cruzará as fronteiras de seu primeiro centenário - é desses lugares que tomam outra dimensão em virtude dos fatos que abrigaram, dos homens que o frequentaram. E se quiserem uma dica, abram mão de um jogo à noite, ainda que seja importante. Escolha um jogo pela manhã ou à tarde, de preferência em um dia ensolarado, quando o azul do céu formará um lindo contraste com o branco e o preto de suas linhas. 

A Vila Belmiro é um lugar desses que merece ser visto à luz natural. Sei que andaram falando aí em construir uma nova Arena coisa e tal. Bom, sou um sujeito atropelado pelo tempo, que ainda compra filmes pra colocar em máquinas fotográficas, que ainda faz questão de ouvir discos de vinil. Em outras palavras, posso ser suspeito para analisar as exigências que o passar do tempo costuma nos impor. Mas nada me tira a certeza de que seria impossível construir um lugar que viesse a ter a aura que a Vila tem. 

Pensando bem, se for possível, vá duas vezes. Uma pra conhecer o seu silêncio, pra olhar distraído e sem pressa suas curvas e notar, quem sabe, que sua elegância também está na sua inadequação. Em ser um signo que atravessou o último século. Mas vá também pra senti-la pulsar, pra ver como o futebol a torna viva. Pra ver como lhe adorna de modo sublime a torrente de sentimentos que brota nas arquibancadas. Talvez a maior reverência que se possa prestar à Vila Belmiro seja reconhecer sua importância. Reconhecer que sem o futebol e a torcida pra lhe estufar as veias ela morreria aos poucos. 

Um estádio não é igreja, não é museu. Mas a Vila!? Ah, a Vila consegue ser ao mesmo tempo um pouco de cada uma dessas coisas. A Bahia, como também disse Caymmi, tem lembranças. Como a Vila Belmiro as têm. Lembranças minhas, de muita gente. Por isso se você ainda foi à Vila, vá! Nem que seja pra um dia ter do que recordar, pra poder dizer por aí que certa vez esteve lá. 

         

4 comentários:

santista de bauru disse...

Parabéns pelo texto, lindo e emocionante, vou a vila sim mesmo morando bem longe esse ano vou conhece-la e com certeza vou me emocionar muitoooooo.

Vladir Lemos, jornalista disse...

Vá, depois me conta.

Vladir Lemos, jornalista disse...

Vá, depois me conta.

Unknown disse...

Vou sempre e fui hoje na festa do centenário