Se há uma coisa que faria muito bem para ao esporte mundial seria
poder contar com o bom senso dos políticos que, no final das contas, são as
engrenagens que fazem a roda megalomaníaca dos grandes eventos continuar
girando. O fato de cidades como Estocolmo, na Suécia, por exemplo, terem nos
últimos tempos desistido de entrar nessa, entre outras coisas, em virtude do
alto custo, alimentou minha esperança de que isso a médio prazo pudesse ser
possível. Mas quando na cerimônia de encerramento dos Jogos do Rio vi o
primeiro- ministro do Japão surgir lá no meio do campo travestido de Mario
Bros, confesso, perdi toda a esperança.
Afinal, o Japão segue no meu imaginário como um país de homens rígidos, um país onde os homens quando têm sua seriedade colocada em xeque muitas vezes
preferem a morte do que a vida sem ela. O que, aliás, sempre me deu uma boa
ideia sobre a cara de pau de boa parte dos nossos homens. Pra piorar no último
final de semana dei de cara com a notícia de que o governo japonês acaba de
aprovar a construção do Estádio Olímpico para os jogos de Tóquio em 2020. Um estádio que custará quase cinco bilhões de reais.
Obviamente a coisa por lá não se deu como por aqui. O contrato inicial sugeria
um gasto de quase nove bilhões.
Mas não foi só o custo que desagradou
a população, o design também. Uma boa lição pra nós. Pois aqui um governo
que leve em conta as impressões do povo sobre o projeto de um estádio é algo que
beira a ficção. E o governo de Tóquio também está revendo o custo total do
evento. A previsão é de que os gastos cheguem a noventa e sete bilhões de reais.
Ou seja, ainda que seja cortado, permitirá ao COI manter seu padrão de ganho a
cada ciclo olímpico. O poder de sedução de uma Olimpíada continua gigante,
talvez maior até do que as próprias cifras envolvidas nela. Atitude séria seria
admitir que o mundo, ainda que o esporte deva ser encarado como algo nobre, já
não comporta gastos desse porte.
Além do mais, a nobreza do esporte
nada tem a ver com a pompa que as cifras costumam emprestar, ao contrário. A
grandeza do esporte está em ser simples. Despi-lo de todas as posses só tornaria
evidente a sua essência. Mas cada vez mais custo a acreditar que um dia os
homens irão se despir de suas vaidades e de suas ambições e colocar esse
patrimônio de todos nós em um outro rumo. Algo que fica ainda mais difícil de
acreditar quando se vive em um país em que a educação física e as artes
são encaradas como algo do qual poderíamos abrir mão.
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