quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Polêmicas

O que espera e o que diverte o torcedor nos dias atuais? Meio século atrás, suponho, essas seriam questões fáceis. Mas passado meio século e diante do que se apresenta rodada após rodada tais questionamentos tomam ares desafiadores. Ou não? Já não dá pra esperar muita coisa do futebol e, pela exaltação dos ânimos, começo a desconfiar que o torcedor anda se divertindo mais com os debates sobre os jogos do que com os próprios. O que tanto pode ser encarado como um sintoma de algum mal terminal quanto como prenúncio de uma nova maneira de se divertir. 

E não deixa de ser compreensível. Afinal, ali estão os melhores momentos, editados com precisão cirúrgica. Ali estão os filés que sobraram de todo o osso que o torcedor precisou roer durante mais de noventa minutos. E essa é ou não é uma oferta irresistível quando o nosso tempo se faz escasso? O jogo como um todo, como um espetáculo com direito a começo, meio e fim, vai perdendo terreno. 

Na falta de futebol florescem as polêmicas. E acho que elas são do jogo. O que não é do jogo é acreditar que alimentá-las é uma exigência dele. No fundo, o que elas são é uma maneira fácil de emprestar vigor a um futebol de pouco apelo técnico. Façamos um exercício já que entramos na reta final do Brasileirão. Tiremos das nossas conversas a imprecisão dos árbitros, os descontentamentos e os pitis dos cartolas, a surpresa com aquele time de tradição que vai mal das pernas, e o que fica? A imprecisão, a desconfiança. E a imprecisão é dos homens. A história está cheia de registros dela, dentro e fora de campo. 

Do jeito que a coisa anda chega a ser inocência acreditar que um recurso eletrônico vai inocular no futebol um antídoto capaz de tirar dele tudo o que tem de contraditório, de imponderável. O futebol de ontem -  como o de hoje - jamais foi feito só concordâncias, mas daí a reduzi-lo a polêmicas são outros quinhentos. O que tá  mais do que na hora é de fazer valer a regra. Os profissionais de TV e afins à beira do campo se perguntados se foi ou não foi impedimento devem responder que isso não é problema deles. E quanto ao juiz, talvez fosse o caso de fazê-los voltar a entrar em campo contando apenas com o próprio juízo. Mas pelo visto nem no próprio juízo eles acreditam mais. Então, fica o torcedor assim, desse modo pobre, se contentando em defender seu time das polêmicas já que o futebol dele muitas vezes se revela indefensável. 

Nenhum comentário: