O que espera e o que diverte o torcedor nos dias atuais? Meio
século atrás, suponho, essas seriam questões fáceis. Mas passado meio século e
diante do que se apresenta rodada após rodada tais questionamentos tomam ares
desafiadores. Ou não? Já não dá pra esperar muita coisa do futebol e, pela
exaltação dos ânimos, começo a desconfiar que o torcedor anda se divertindo mais
com os debates sobre os jogos do que com os próprios. O que tanto pode
ser encarado como um sintoma de algum mal terminal quanto como prenúncio de uma
nova maneira de se divertir.
E não deixa de ser compreensível. Afinal, ali
estão os melhores momentos, editados com precisão cirúrgica. Ali estão os filés
que sobraram de todo o osso que o torcedor precisou roer durante mais de noventa
minutos. E essa é ou não é uma oferta irresistível quando o nosso tempo se faz
escasso? O jogo como um todo, como um espetáculo com direito a começo, meio e
fim, vai perdendo terreno.
Na falta de futebol florescem as polêmicas. E acho
que elas são do jogo. O que não é do jogo é acreditar que alimentá-las é uma
exigência dele. No fundo, o que elas são é uma maneira fácil de emprestar vigor
a um futebol de pouco apelo técnico. Façamos um exercício já que entramos na
reta final do Brasileirão. Tiremos das nossas conversas a imprecisão dos
árbitros, os descontentamentos e os pitis dos cartolas, a surpresa com aquele
time de tradição que vai mal das pernas, e o que fica? A imprecisão, a
desconfiança. E a imprecisão é dos homens. A história está cheia de registros
dela, dentro e fora de campo.
Do jeito que a coisa anda chega a ser inocência
acreditar que um recurso eletrônico vai inocular no futebol um antídoto capaz de
tirar dele tudo o que tem de contraditório, de imponderável. O futebol de ontem - como o de hoje - jamais foi feito só concordâncias, mas daí a reduzi-lo a
polêmicas são outros quinhentos. O que tá mais do que na hora é de fazer valer
a regra. Os profissionais de TV e afins à beira do campo se perguntados se foi
ou não foi impedimento devem responder que isso não é problema deles. E quanto
ao juiz, talvez fosse o caso de fazê-los voltar a entrar em campo contando
apenas com o próprio juízo. Mas pelo visto nem no próprio juízo eles acreditam
mais. Então, fica o torcedor assim, desse modo pobre, se contentando em
defender seu time das polêmicas já que o futebol dele muitas vezes se revela
indefensável.
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