Não sei se o caro leitor sabe, ou se
recorda, que Dorival Caymmi em uma das tantas músicas que fez para cantar seu
amor pela Bahia tomou a liberdade de perguntar e, em seguida afirmar: Você já
foi à Bahia? Não! Então vá. Pois diante do momento que se aproxima acho que um
questionamento semelhante se faz apropriado. Afinal: Você já foi à Vila Belmiro?
Não! então vá! É difícil acreditar que alguém que more por
perto - ou vez ou outra passe por ali - tenha resistido à tentação, e que se não
tiver ido por amor, não tenha ido por pura curiosidade.
Vá á Vila! Mesmo que não
seja santista, mesmo que tenha um certo receio do que costuma rolar no entorno
dos nossos estádios, vá mesmo que não goste de futebol. Vá porque a Vila Belmiro
- que será merecidamente cortejada nos próximos dias quando cruzará as
fronteiras de seu primeiro centenário - é desses lugares que tomam outra
dimensão em virtude dos fatos que abrigaram, dos homens que o frequentaram. E se
quiserem uma dica, abram mão de um jogo à noite, ainda que seja
importante. Escolha um jogo pela manhã ou à tarde, de preferência em um dia
ensolarado, quando o azul do céu formará um lindo contraste com o branco e o
preto de suas linhas.
A Vila Belmiro é um lugar desses que merece ser visto à
luz natural. Sei que andaram falando aí em construir uma nova Arena coisa e tal.
Bom, sou um sujeito atropelado pelo tempo, que ainda compra filmes pra colocar
em máquinas fotográficas, que ainda faz questão de ouvir discos de vinil. Em
outras palavras, posso ser suspeito para analisar as exigências que o
passar do tempo costuma nos impor. Mas nada me tira a certeza de que seria
impossível construir um lugar que viesse a ter a aura que a Vila tem.
Pensando
bem, se for possível, vá duas vezes. Uma pra conhecer o seu silêncio, pra olhar
distraído e sem pressa suas curvas e notar, quem sabe, que sua elegância também
está na sua inadequação. Em ser um signo que atravessou o último século. Mas vá
também pra senti-la pulsar, pra ver como o futebol a torna viva. Pra ver como
lhe adorna de modo sublime a torrente de sentimentos que brota nas
arquibancadas. Talvez a maior reverência que se possa prestar à Vila Belmiro
seja reconhecer sua importância. Reconhecer que sem o futebol e a torcida pra
lhe estufar as veias ela morreria aos poucos.
Um estádio não é igreja, não é
museu. Mas a Vila!? Ah, a Vila consegue ser ao mesmo tempo um pouco de cada uma
dessas coisas. A Bahia, como também disse Caymmi, tem lembranças. Como a Vila
Belmiro as têm. Lembranças minhas, de muita gente. Por isso se você ainda foi à
Vila, vá! Nem que seja pra um dia ter do que recordar, pra poder dizer por aí que certa vez esteve lá.
4 comentários:
Parabéns pelo texto, lindo e emocionante, vou a vila sim mesmo morando bem longe esse ano vou conhece-la e com certeza vou me emocionar muitoooooo.
Vá, depois me conta.
Vá, depois me conta.
Vou sempre e fui hoje na festa do centenário
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