Foto: Fernanda Luz |
O sangue português me corre nas veias. A
paixão pela Briosa me vai na alma. Por isso, no último sábado enquanto dava
conta de um plantão trazia comigo, em silêncio, sem contar pra ninguém na
redação que a cabeça até estava no texto que batucava sobre a vitória do
Barcelona... mas que o coração queria mesmo é saber da Briosa. E quando, enfim,
a pesquisa no google trouxe a notícia do acesso com direito a recorde de público
no campeonato fui tomado pela nostalgia. A matéria trazia imagens da torcida em
festa. Deus do céu, Ulrico Mursa pulsava. Nesse país infame em que a modernidade
significa destruir tudo o que é velho é quase um milagre que o velho estádio com
sua arquitetura peculiar tenha ficado de pé.
Não vou ficar aqui lembrando o que
vivi naquelas arquibancadas. Mas não resisto a confessar coisas talvez
ainda mais íntimas. Como a sensação de orgulho que me invade toda vez que -
voltando pra casa - passo em frente a sede da Federação Paulista e
vejo estampado lá no portão de entrada o distintivo da Portuguesa Santista,
avisando aos mais atentos que ali estão apenas os clubes fundadores da
entidade. Entidade que, diga-se de passagem, deveria faz tempo ter jogado uma
corda pra salvar a outra Portuguesa do buraco no qual parece se afundar cada vez
mais. Ou não é tarefa da Federação zelar pelos clubes ? Do jeito que vamos não
tardará o tempo em que o futebol se resumirá aos grandes e, talvez, a um ou
outro clube com nome de empresa.
Mas saibam vocês que minha alegria com a Briosa
não é uma alegria nascida da conquista, da possibilidade de reviver uma emoção
que remete ao meu tempo de menino ou ao meu tempo de repórter em início de
carreira. Por uma questão de história pessoal será ali em Ulrico Mursa que o
futebol sempre me soará mais íntimo. Esteja eu na condição de torcedor ou de
jornalista. E quis o destino que exercendo o ofício eu fosse presenteado com a
possibilidade de testemunhar, de reportar in loco, dois grandes feitos desse
time querido. O acesso da terceira pra segunda divisão, e um outro, ainda mais
nobre, da segunda pra primeirona. É ou não é um presente divino pra quem tem a
cabeça cheia de lembranças colhidas ali entre um tremoço e outro, entre um
sorvete e outro?
E mais, misturado a tudo isso tenho ainda a imagem do meu velho pai,
do meu tio Darci, pousando os olhos sobre o gramado, sorrindo ao dar de cara com
os lances que o bravo time de Ulrico Mursa ia desenhando em campo. A Briosa, pra
mim, é a prova de que a paixão por um time independe de títulos. Olho uma vez
mais as imagens da festa e já não tenho tanta certeza de que não é possível
voltar no tempo.
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