O fato do desporto paraolímpico
brasileiro ser dono de resultados mais expressivos do que os do desporto
olímpico sempre me intrigou. Não faz muito tempo participei de um evento no
interior de São Paulo e questionei o nadador André Brasil. Claro, há
explicações. Uma delas, o enorme número de pessoas com deficiência em nosso
país. Segundo o Censo de 2010 23,9% da população brasileira tem algum tipo de
deficiência. Um universo imenso, quarenta e cinco milhões de pessoas. Mais do
que a população de países como a Argentina e o Canadá.
Há quem diga também que a
falta de oportunidade no mercado de trabalho, de certa forma, faz do esporte uma
saída. Dados do Ministério do Trabalho de três anos atrás apontavam que menos de
trezentos e cinquenta e oito mil deficientes tinham algum vínculo empregatício
no nosso país. Ou seja, míseros 0,73% do total de pessoas nessa condição.
Há quem credite ainda tal sucesso à qualidade do trabalho feito pelo Comitê
Paraolímpico Brasileiro. Tudo deve ser levado em conta. Mas gosto de manter
comigo - intacta - uma visão mais poética sobre o tema. Gosto de pensar que o
que tempera tudo isso é a fibra desse nosso povo.
Quando vejo um brasileiro
campeão paraolímpico não consigo deixar de lembrar como nosso país trata os
deficientes. Não sai de mim essa consciência de que o sujeito que chegou
lá precisou vencer dificuldades que vão muito além dos adversários. Razão que me
faz ver em cada um deles mais do que campeões. E quando falo da fibra do povo
é porque desde sempre os que escolheram esse caminho tiveram exemplos, tiveram a
quem seguir. E isso é essencial. Lembrem-se que nos idos dos anos 80 Luiz Cláudio entrava escondido no Célio de Barros pra poder usar a pista de atletismo que lhe era negada. Olhe o tamanho que tomaram figuras como Daniel
Dias, Clodoaldo Silva, Alan Fonteles, Antônio Tenório. Acredito que o esporte
paraolímpico consegue ser o mais exemplar de todos. No sentido estrito da
palavra. Pode servir como inspiração, mas antes de tudo serve de exemplo.
Por essas e outras outro dia me emocionei ao ouvir Clodoaldo Silva. Primeiro porque ao falar
demonstrou venerar o momento, não a conquista. Depois, porque tinha acabado de
conquistar uma prata, poderia ceder ao lamento, teria o direito tão acostumado
ao ouro que estava. Mas não. Disse, quase em tom de desculpa, que não entendia
como um sujeito falador como ele tinha ficado sem palavras naquela hora. E
confessou ao repórter que o entrevistava que nem nos melhores sonhos imaginava
que o esporte paraolímpico pudesse estar no patamar que está. Uma alegria
repentina me tomou. Pois estou longe de ser um expert no assunto, mas o Clodoaldo sabe tudo. Então, tomara, Clodoaldo, tomara.
2 comentários:
Bom dia.
Meu marido está fazendo o trabalho de conclusão da faculdade de jornalismo e o mesmo fala sobre a falta do camisa 10 no futebol nacional. Visto o livro acerca da magia dessa camisa, gostaria de saber se você aceitaria colaborar com a pesquisa.
Grata desde já,
Mariana.
Claro, Mariana.
Se puder ajudar será um prazer.
Podemos falar pelo e.mail: vladirlemos@gmail.com
Abs
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