Sejamos francos. E se a
memória não me trai até já disse isso aqui. Os desmontes aos quais o time
corintiano tem sido exposto nos últimos tempos deveriam, antes de qualquer outra
coisa, inocentar os seus treinadores a respeito de fracassos posteriores. O
detalhe da história é que o consagrado Tite quando se viu em condição parecida,
depois de ter perdido jogadores como Guerrero, conseguiu levar o Corinthians a
mais um título brasileiro. Com Cristovão Borges aconteceu o mais óbvio:
naufragou. E esse papo de que o cara não tem perfil, de que o estilo não casa
com o clube, isso não cola pra mim. E vou dizer a razão.
A depender do perfil
ficamos todos condenados a nos divertir apenas com os que chegaram lá, com os
consagrados, com os tidos como durões. Não contesto a eficácia do perfil. O que
quero contestar é essa maneira de pensar. Cristovão Borges errou. Mas se tivesse
só acertado, notem, teria sido capaz de algo impensável. Tô pra conhecer um
corintiano que tivesse, ao menos, considerado essa possibilidade. Que tivesse
lhe concedido um voto de confiança. Nessa vibração mesmo Guardiola teria
dificuldade pra segurar o rojão.
A torcida é cruel e a imprensa também. Não
pensem que a crônica esportiva em tempo algum conseguiu pensar sem levar em
consideração o veneno que costuma escorrer das arquibancadas. Mas temos de
saber ouvir. Ter ouvido seletivo, muito seletivo, sabe? Por falar em Guardiola,
lembro bem de uma declaração dada por ele ao se despedir do Bayer de Munique.
Estarrecedora porque torna evidente toda a perversão e complexidade envolvida
nesse tema. Disse Guardiola naquela despedida que existiam veículos na Alemanha
que até aquele momento não haviam lhe feito uma única pergunta sobre futebol,
sobre o jogo.
Diria que foi pelo mais banal dos pecados que costumam levar
treinadores ao purgatório que vimos Cristovão arder. Gente que conhece futebol
como ele, quero crer, tem conhecimento suficiente para sacar que o momento não
era propício, que a sombra de Tite era gigante. E que mesmo Tite não tinha sido
tratado com o devido respeito. Mas Cristovão não foi o primeiro e não será o
último a sucumbir diante do chamado de um grande clube. Mesmo que nossa história
recente esteja recheada de exemplos que deveriam servir de alerta. Um
emblemático? Silas. Consagrado no Grêmio, seduzido pelo Flamengo, e que até hoje
não voltou a ter do futebol uma chance a altura do que já fez. E juro, ao
lembrar dele não procurava uma analogia com Roger Machado. Foi só
coincidência.
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