terça-feira, 19 de julho de 2016

O futebol e o nosso senso de humor


Olha, não sei a quantas anda a relação de vocês com os homens que aceitaram a ingrata missão de apitar uma partida de futebol. Mas saibam que a CBF segue firme na cruzada para que isso tudo melhore. O aviso das últimas orientações dadas pela entidade nos chegou acompanhada pela alvissareira notícia de que nas primeiras quatorze rodadas do Brasileirão o número de partidas que foram além dos sessenta minutos de bola rolando cresceu mais de 500% nos últimos dois anos. Das míseras oito partidas registradas em 2014 para 42 este ano. O que me fez concluir que, talvez, não resida exatamente na arbitragem o principal motivo do nosso mau humor. Eu explico. 

Com os homens do apito devidamente orientados nosso atletas têm ficado mais expostos, têm precisado lidar mais com a bola, o que vem escancarando de vez a pobreza técnica que assola nosso futebol, minando de vez nosso humor. Um olhar mais atento até mesmo sobre o clássico do último domingo entre Corinthians e São Paulo pode convencê-los dessa minha teoria. Se puderem ver o VT atentem para uma breve sequência de lances registrada no início do vigésimo quarto minuto do segundo tempo. Um perde o tempo de bola, outro erra, a bola espirra pra lá e pra cá sem que apareça ninguém capaz de realmente dominá-la, só vendo. Ou revendo, se tiverem coragem. 

Mas, observações feitas, acho que as orientações foram pertinentes. Exigir que na cobrança de escanteio a bola esteja no lugar certo faz sentido. Vocês já devem ter notado que de uns tempos pra cá nego tem sismado de colocá-la um tantinho pra fora da marca. E juro que não consigo entender do que é capaz essa mínima diferença. A insistência dos goleiros que, em geral, ignoram o cumprimento do seis segundos para colocar a bola em jogo também ficou na mira, bem como o fato dos laterais serem cobrados muito além de onde a bola saiu. O aviso também deixou claro que os árbitros não devem aceitar em hipótese alguma que jogador peça cartão pro adversário, que faça rodinha pra reclamar, que mande o árbitro consultar o assistente. 

Tudo moleza, perto da orientação sobre o agarra-agarra na área, curiosamente colocada entre as coisas com as quais o árbitro deve ter atenção, e não entre as que o árbitro não deve aceitar em hipótese alguma. Tudo tem limite. Aproveito o momento, então, para lembrar que evitar que o jogador adversário se aproxime usando o braço é... falta. E impedir que o goleiro reponha a bola com agilidade coisa pra ser punida com cartão amarelo. Mas sejamos sinceros. O que tem mexido com nosso humor é a constatação de que andamos necessitados de bem mais do que bola rolando. É ou não é? 

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