Olha, não sei a quantas anda a relação de vocês com
os homens que aceitaram a ingrata missão de apitar uma partida de futebol. Mas
saibam que a CBF segue firme na cruzada para que isso tudo melhore. O
aviso das últimas orientações dadas pela entidade nos chegou acompanhada pela
alvissareira notícia de que nas primeiras quatorze rodadas do Brasileirão o
número de partidas que foram além dos sessenta minutos de bola rolando cresceu
mais de 500% nos últimos dois anos. Das míseras oito partidas registradas em
2014 para 42 este ano. O que me fez concluir que, talvez, não resida exatamente
na arbitragem o principal motivo do nosso mau humor. Eu explico.
Com os homens
do apito devidamente orientados nosso atletas têm ficado mais expostos, têm
precisado lidar mais com a bola, o que vem escancarando de vez a pobreza técnica
que assola nosso futebol, minando de vez nosso humor. Um olhar mais atento até
mesmo sobre o clássico do último domingo entre Corinthians e São Paulo pode
convencê-los dessa minha teoria. Se puderem ver o VT atentem para uma breve
sequência de lances registrada no início do vigésimo quarto minuto do segundo
tempo. Um perde o tempo de bola, outro erra, a bola espirra pra lá e pra cá sem
que apareça ninguém capaz de realmente dominá-la, só vendo. Ou revendo, se
tiverem coragem.
Mas, observações feitas, acho
que as orientações foram pertinentes. Exigir que na cobrança de escanteio a bola
esteja no lugar certo faz sentido. Vocês já devem ter notado que de
uns tempos pra cá nego tem sismado de colocá-la um tantinho pra fora da marca. E
juro que não consigo entender do que é capaz essa mínima diferença.
A insistência dos goleiros que, em geral, ignoram o cumprimento do seis segundos
para colocar a bola em jogo também ficou na mira, bem como o fato dos laterais
serem cobrados muito além de onde a bola saiu. O aviso também deixou claro que
os árbitros não devem aceitar em hipótese alguma que jogador peça cartão pro
adversário, que faça rodinha pra reclamar, que mande o árbitro consultar o
assistente.
Tudo moleza, perto da orientação sobre o agarra-agarra na área,
curiosamente colocada entre as coisas com as quais o árbitro deve ter atenção, e
não entre as que o árbitro não deve aceitar em hipótese alguma. Tudo tem limite. Aproveito o
momento, então, para lembrar que evitar que o jogador adversário se aproxime
usando o braço é... falta. E impedir que o goleiro reponha a bola com agilidade
coisa pra ser punida com cartão amarelo. Mas sejamos sinceros. O que tem mexido
com nosso humor é a constatação de que andamos necessitados de bem mais do que
bola rolando. É ou não é?
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