quarta-feira, 6 de julho de 2016

Com receio de um papelão


Longe de mim negar minha brasilidade com tudo que cabe aí de nobre e subdesenvolvido. Mas é preciso admitir que o momento que se aproxima pode nos fazer passar um tremendo papelão. Como se já não bastasse tudo que nossos políticos andam fazendo nesse sentido. Não desconsidero a possibilidade de que uma vez acesa a pira olímpica as coisas se acalmem e esse nosso Brasilzão passe a desfrutar de uma calmaria sueca. Não seria uma novidade. 

Morava no Rio de Janeiro nos idos de 1992 - quando a cidade maravilhosa se preparava para sediar a ECO 92 - e lembro bem da apreensão, dos soldados e tanques espalhados pelas ruas, na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas. Nada demais aconteceu e ficou a sensação de que naqueles dias vigiados a cidade ficou infinitamente mais segura e silenciosa. Mesmo na Copa realizada aqui, a não ser por algumas manifestações prontamente contidas, tudo correu bem. Um sucesso que deveria acalmar mas, não só a mim como a muitos que ouço por aí, causa estranheza. Deixa no ar a sensação de que é possível em horas chaves se fazer algum acordo com os que nos assombram para que reine a paz. O que seria algo quase tão brutal como a violência. 

Ocorre que nossa realidade se deteriora a olhos vistos. Ouvir, como ouvi outro dia, o prefeito do Rio dizer com certa soberba que a calamidade era do Estado e que a cidade do Rio e suas finanças iam muito bem e que o custo das olimpíadas no final será trinta e cinco por cento mais barato do que o imaginado foi de arrepiar. Se agora sabemos que o Pan e certas obras viárias nos levaram trezentos e setenta milhões de reais, quanto os espertos não terão lucrado com uma olimpíada? 

E lembrem que nos disseram que sediar um Pan deixaria quase tudo pronto para uma futura edição dos jogos olímpicos. Lembrem das obras que até hoje não foram entregues. De tudo que a essa hora está apodrecendo depois de ter sido erguido em nome do esporte. Tempos atrás senti vergonha como brasileiro ao dar de cara com a imagem de Mick Fanning, o campeão mundial de surfe, saindo do mar da Barra carregando um saco de lixo. Este ano participantes da mesma etapa brasileira do Tour deram de cara com um assalto a mão armada ao sair do hotel em que estavam. Atletas espanhóis da vela que estão treinando no Brasil foram vítimas de cinco pivetes. E no final de semana passado duas carretas carregadas com equipamentos de emissoras alemãs foram roubadas na Avenida Brasil. 

Custo a acreditar que sairemos ilesos dessa. A possibilidade de um papelão é grande. Mas que a realidade me convença do contrário, pois os discursos jamais o farão.

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