Nem tudo o que se pensa se fala. Fico imaginando que no fundo, no
fundo, Dunga olhe pra situação dele e pense: os caras me bombardeiam mas a
Argentina perdeu em casa. É, perdeu. Mas quem pensa assim deveria levar em conta
que os argentinos carregarão até a próxima Copa o status de vice-campeões do
mundo. Se os brasileiros costumam não valorar os vices é outra questão. Isso sem
dizer que com muito menos futebol eles endureceram o jogo pra cima da Alemanha e
estiveram perto de fazer na final o que parecia improvável. E não foi à toa. O
time argentino com todas os detalhes desabonadores que possam lhe impor continua
tendo uma maneira de se portar em campo que soa muito condizente com o que
sempre foi. Engana-se quem, cegado pela rivalidade, não enxerga no time portenho
uma escola de futebol.
Se com a bola ao longo da história conseguimos ser mais
artistas, eles desde sempre puderam nos servir de exemplo de conjunto, sem nunca
terem deixado de ter também jogadores de técnica respeitável. A leitura que fiz
e faço das primeiras apresentações do Brasil nas eliminatórias é simples. A
opção de Dunga por Lucas Lima diz tudo. Foi, antes de qualquer outra coisa, o
espelho do tamanho da ousadia do nosso treinador que, falando claramente, no
primeiro jogo foi capaz de apostar cerca de dez minutos na
capacidade criativa do nosso futebol. E só. Não deixo de reconhecer em parte dos
nossos convocados certa excelência técnica. Nem desdenho da igualdade entre os
times que o tempo trouxe e se faz evidente. Mas o que me intriga, é que ainda
estamos em um patamar razoável, mas que não tem se refletido em nenhum tipo de
vantagem em campo.
É fato que temos há tempos uma seleção sem pegada, sem
identidade, e nada pode ser mais brochante do que isso. Adiante não sei, mas
hoje em dia a seleção brasileira é um time que não deu liga. Há quem se agarre
ao placar do jogo contra a Venezuela. Na próxima rodada estaremos frente a
frente com os argentinos, que perderam na estreia como nós. Gostaria de
acreditar que estamos em pé de igualdade com eles, mas não creio. E também não
vou mudar de ideia caso o time brasileiro vença a Argentina jogando em Buenos
Aires. O placar não me servirá de parâmetro. Quem parecerá mais time, quem terá
um jeito mais sólido de jogar, quem será mais competitivo? Aliás,
competitividade é qualidade que nunca faltou aos argentinos, e que a antiga
seleção de Dunga também tinha. Mas, quem terá mais alma, mais identidade? Essa é
a dividida que eu quero ver o Brasil encarar, é isso que gostaria de ver no time
brasileiro quando ele voltar a disputar um jogo de eliminatória no mês que
vem.
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