sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Treinadores: o que dita o fim ?


Muitas vezes me pego num auto-desafio de escrever não como quem simplesmente relata fatos, mas como alguém que retrata um tempo. Questão de fazer valer a labuta. Pensando assim, se eu tivesse que falar sobre treinadores diria que nesses tempos que correm são tratados como reis. Se ganham jogo, ou não, ninguém sabe, mas faturam como se disso não houvesse dúvida. Os com vocação estratégica e para os estudos têm sido muito bem vistos. E é bom que assim seja, conhecimento nunca será demais. Mas a verdade é que a maioria não parece dar conta do perfil. 

E na crônica esportiva as infinitas discussões insistem na necessidade de lhes dar um tempo maior para trabalhar, ignorando que é a vida que dita o ponto final das coisas. Muricy, tricampeão brasileiro com o São Paulo, sucumbiu. Marcelo Oliveira, bicampeão brasileiro com o Cruzeiro, sucumbiu. E dias trás aquele que era o mais longevo treinador da primeira divisão do futebol brasileiro, Eduardo Batista, digamos, preferiu sucumbir. Leia-se ir para o Fluminense.

Perguntado sobre o motivo que o levou a sair do Sport não deu voltas, disse que sentiu que seu fim no time pernambucano se aproximava. Gostaria de afirmar que o argumento não passava de uma desculpa. Mas se Muricy e Marcelo - com triunfos imensos - não duraram três anos e pouco, porque Eduardo com o time perdendo fôlego a olhos vistos no Brasileirão deveria acreditar que duraria? É por essas e outras que deixo aqui escrito que, mesmo breve, a passagem de Juan Carlos Osório pelo futebol brasileiro é de grande valia.

Osório tem uma interpretação original do jogo e do que o cerca. Outro dia traçou um panorama do comportamento da nossa torcida com uma lucidez que não lembro ter visto em outro treinador. Disse que aqui a torcida, embora apaixonada, joga contra e exige que o time a contagie, ao contrário do que se vê em outros continentes. Lá, segundo ele, a torcida é que contagia o time. Essa diferença pode até ser uma qualidade. Não precisamos ser cordeiros sempre. Osório tem dito o que, em geral, os treinadores não costumam dizer, como o fato de nossos times por aqui estarem expostos demais, que é muita gente falando, dando pitaco. São detalhes, eu sei, mas que precisam ser lembrados sempre.

Tenho ouvido por aí que a direção do time do Morumbi não fará força para mantê-lo no cargo. Não me surpreende, treinadores desse tipo precisam de dirigentes à sua altura. Os que derem de cara com estas minhas linhas lá adiante poderão dizer se tenho (ou tinha) razão. Isso, talvez, por volta de 2090, quando o futebol brasileiro terá tido quase uma eternidade pra virar gente grande. 

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