Muitas vezes me pego num
auto-desafio de escrever não como quem simplesmente relata fatos, mas como alguém
que retrata um tempo. Questão de fazer valer a labuta. Pensando assim, se eu
tivesse que falar sobre treinadores diria que nesses tempos que correm são
tratados como reis. Se ganham jogo, ou não, ninguém sabe, mas faturam como se
disso não houvesse dúvida. Os com vocação estratégica e para os estudos têm
sido muito bem vistos. E é bom que assim seja, conhecimento nunca será demais.
Mas a verdade é que a maioria não parece dar conta do perfil.
E na crônica esportiva as infinitas
discussões insistem na necessidade de lhes dar um tempo
maior para trabalhar, ignorando que é a vida que dita o ponto final das
coisas. Muricy, tricampeão brasileiro com o São Paulo, sucumbiu. Marcelo
Oliveira, bicampeão brasileiro com o Cruzeiro, sucumbiu. E dias trás aquele que
era o mais longevo treinador da primeira divisão do futebol brasileiro,
Eduardo Batista, digamos, preferiu sucumbir. Leia-se ir para o
Fluminense.
Perguntado sobre o motivo que o levou a sair do Sport não deu
voltas, disse que sentiu que seu fim no time pernambucano se aproximava.
Gostaria de afirmar que o argumento não passava de uma desculpa. Mas se Muricy e
Marcelo - com triunfos imensos - não duraram três anos e pouco, porque Eduardo com o
time perdendo fôlego a olhos vistos no Brasileirão deveria acreditar que
duraria? É por essas e outras que deixo aqui escrito que, mesmo breve, a
passagem de Juan Carlos Osório pelo futebol brasileiro é de grande
valia.
Osório tem uma interpretação original do jogo e do que o cerca. Outro dia
traçou um panorama do comportamento da nossa torcida com uma lucidez que não
lembro ter visto em outro treinador. Disse que aqui a torcida, embora
apaixonada, joga contra e exige que o time a contagie, ao contrário do que se vê
em outros continentes. Lá, segundo ele, a torcida é que contagia o time. Essa
diferença pode até ser uma qualidade. Não precisamos ser cordeiros
sempre. Osório tem dito o que, em geral, os treinadores não costumam dizer, como
o fato de nossos times por aqui estarem expostos demais, que é muita gente
falando, dando pitaco. São detalhes, eu sei, mas que precisam ser lembrados
sempre.
Tenho ouvido por aí que a direção do time do Morumbi não fará força para
mantê-lo no cargo. Não me surpreende, treinadores desse tipo precisam de
dirigentes à sua altura. Os que
derem de cara com estas minhas linhas lá adiante poderão dizer se tenho (ou tinha) razão. Isso, talvez, por volta de 2090, quando o futebol brasileiro terá tido quase uma
eternidade pra virar gente grande.
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