quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Meu personagem da semana


O meu personagem da semana esteve longe de entrar em campo no último domingo com alguma afetação. E era dele um papel importantíssimo no espetáculo. Disso não restava dúvida. Como dúvida também não havia de que o tal cidadão estava diante de uma tarefa espinhosa. Não bastasse a natureza do seu ofício, ninguém entre nós em sã consciência seria capaz de negar que ao entrar no gramado da pomposa Arena palmeirense para executar sua missão não pesasse sobre ele a sombra da desconfiança. E foi nesse estado desafiador que ele cumpriu as exigências do papel que assumiu. Conferiu as redes, seus cronômetros, se certificou de que cada atleta tivesse o uniforme dentro das regras, que o apito estivesse firme nas mãos. E em seguida, amparado por essas frágeis seguranças que costumam sugerir aos homens ser possível domar o destino, se pôs a trabalhar. 

Fez uma partida impecável. Tamanha foi a obra de Raphael Claus no clássico entre Palmeiras e Corinthians que um dia depois do jogo tudo que consegui ouvir a respeito da arbitragem dele foi um comentarista questionar sua interpretação de uma entrada do goleiro corintiano na jovem promessa palmeirense de nome Jesus. Mesmo assim sem a mínima convicção. E isso, neste tempo em que a câmera lenta e o replay desnudam impiedosamente os atos de qualquer juiz, convenhamos, é um feito louvável. Mas não pensem por isso, e pelos meus oportunos elogios, que o senhor Claus está acima dessas coisas. Meses atrás apitou uma semifinal do Campeonato Mineiro entre Atlético e Cruzeiro e de lá saiu com os dirigentes dos dois times soltando fogo pelas ventas. E olha que o placar terminou apontando um inocente empate por um a um. 

A atuação dele domingo também mostrou que estava bem acompanhado. Do dito trio de arbitragem nada parece ter escapado. Quando a certa altura vi o lateral Lucas dar uma entrada daquelas e não ser advertido com cartão quase vi cair por terra essa admiração que me ia nascendo. Mas quando o jogo parou, o senhor Claus, avisado por um de seus bandeiras, foi lá dar o cartão ao jogador palmeirense que àquela altura já devia estar se sentindo orgulhoso de sua impunidade. Pois o senhor Claus aceitou- vejam que alvissareiro - essa condição de máxima discrição que deveria ser o primeiro atributo de quem exerce esse tipo de ofício. E mais, nele aquele ar militar - tão presente hoje em dia entre os seus - simplesmente não existiu. Findo o jogo, da pomposa Arena partiu o senhor Raphael Claus podendo até, talvez, se misturar aos torcedores sem se quer ser reconhecido. E nesse caso, teria sido merecido.  

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